No Piauí, homem que recebeu transplante de fígado conhece família da doadora
Administrador em 25 de setembro de 2017
Depois que recebeu o diagnóstico para fazer transplante de fígado, o artista plástico Adécio de Assis Gonçalves, 65, sentiu o baque de ter que entrar numa fila de espera, mas recebeu acolhimento, ganhou um fígado em Fortaleza e a chance de continuar a viver com saúde. A nova oportunidade ele já aproveita no windsurfe, esporte que pratica há mais de um ano.
Desde 2013, Adécio Gonçalves, que apesar de ter nascido no interior de São Paulo, se considera baiano de coração, sabia ser portador de hepatite C. Tempos depois, recebeu a indicação da necessidade do transplante, mas conta ter desistido de fazer na Bahia. “Me encaminharam logo para quimioterapia. Fui para São Paulo, mas tem muita gente na fila de espera”, lembra o artista plástico, que é casado, tem três filhos e quatro netos.
Tudo começou quando um amigo médico hepatologista orientou que ele fosse para Fortaleza, indicação que não foi bem aceita entre familiares e amigos. “Há um preconceito no Sul com o Nordeste. Em São Paulo, o pessoal queria que eu fizesse o transplante lá, porque Ceará era ‘terceiro mundo'”, disse.
E acrescentou: “Quando vim pra Fortaleza, aí é que o povo ficou doido. Mas vim respaldado por uma pessoa que entende, e Fortaleza é referência na América Latina em transplante”, defendeu, segundo noticiou o G1 Ceará.
TRANSPLANTE E VIDA NOVA – Em agosto de 2015, já na capital cearense, Adécio teve uma triagem agendada no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Com duas semanas, recorda o agora adepto da prancha a vela, já estava na fila do transplante, e no dia 12 de setembro – dois dias depois de confirmada a morte cerebral da filomenense Claudenice Lopes de Sousa – o procedimento foi realizado, por meio de um doador de Teresina, no Piauí. “Foi muito rápido. Como meu caso era grave, foi agilizado”, disse Adécio de Assis Gonçalves.
Antes da cirurgia, a caminhada era o único exercício praticado. Mas a vontade era de ir além das passadas a pé. “Não podia ficar só olhando para o teto, pensando em doença, remoendo. Na verdade, eu queria praticar kitesurfe, mas me aconselharam que pegasse um esporte mais leve”. Foi quando conheceu o windsurfe. “Já estou há um mês e meio. Meu material está rodando nas redes sociais pra incentivar. Já que Deus está nos dando uma oportunidade de sobrevida, a pessoa precisa sair, praticar esporte”, diz.
O ENCONTRO COM A FAMÍLIA – Dois anos depois, Adecio de Assis Gonçalves, paulista do interior mas que reside na Bahia faz mais de 40 anos, que recebeu transplante de fígado e, como forma de gratidão, viajou do recôncavo baiano, passando por Fortaleza, onde tem que retornar a cada 6 meses, até o Bairro Bela Vista, na cidade de Santa Filomena, no extremo oeste do Piauí, para conhecer e agradecer à família de Claudenice Lopes de Sousa (Nice), falecida em Teresina (PI), dia 10 de setembro de 2015, pouco antes de completar 29 anos de idade, conforme relembra Dona Josefa.
Por decisão de dona Josefa Maria Lopes, foram doados os órgãos (fígado, rins e coração) e tecidos (córnea e pele/lábios), permitindo assim que outras pessoas continuassem vivendo, como Adécio. “Decidi que deveria doar, pra dar vida a quem tava precisando. Primeiro eu disse que não aceitava, mas no mesmo momento Deus tocou no meu coração, e aceitei. Aí falei com o médico: eu aceito, pode doar. Eu sempre esperava que um dia alguém um dia ia agradecer, como fez o seu Adécio”, falou, emocionada.
Foi emocionante o encontro, na tarde de ontem, sábado (23/09/2017), entre Adecio Gonçalves (receptor do Fígado) e os pais da doadora, Manoel Ferreira de Sousa (Aldênio) e Josefa Maria Lopes. Durante algumas horas ele conversou com a família, incluindo também irmãos, filhos e outros parentes.
“É um momento ímpar, difícil de descrever. Eu sentia necessidade desse encontro, de estar com essa família solidária. Me sinto feliz de estar ao lado de seu Manoel, de dona Josefa, dos filhos e dos irmãos da Nice, da comunidade em geral, do Padre Isaias, do José Bonifácio, do Carlos Biah, do Erivaldo Araújo… Estou me sentindo aliviado, leve, feliz”, disse o senhor Adécio, após o encontro com os familiares de Claudenice Lopes (Nice).
“Quando vi seu Adécio, senti muita força, é como se tivesse vendo minha filha. A emoção é muito grande. Tô vendo um pedaço da minha filha, ajudou a salvar uma pessoa que tava precisando”, agradeceu o pai, senhor Aldênio.
O artista plástico Adécio Gonçalves passou algumas horas conversando com a família e, no final da tarde, retornou ao Hotel Santo Antonio, onde está hospedado. Neste domingo (24) concederá entrevista à Rádio Comunitária Rio Taquara FM, junto com o pai e a mãe de Claudenice Lopes, além do Padre Isaias Pereira, com quem vinha mantendo contato nos últimos dias, e depois vai almoçar com familiares e amigos da Nice, no Bairro Bela Vista.
Finalmente, à noite, Adécio Gonçalves se fará presente à Santa Missa, celebrada pelo Padre Isaias Pereira, na Igreja Matriz de Santa Filomena.
Tema do Café com Informação
A lista de espera por um doador no Piauí conta com 713 pacientes, destes 322 esperam por um rim, sendo 75 (ativos) e 247 (inativos), ou seja, pacientes que aguardam algum exame para serem ativados no sistema nacional de transplantes, e 395 aguardam doações de córneas. Desse total, 22 são crianças, onde 17 esperam por um córnea e 5 por um transplante de rim.
Mas com relação aos outros órgãos, a médica nefrologista e coordenadora da central de transplantes, Lourdes Veras, entrevistada programa Café com Informação, explica que os outros órgãos, como fígado, coração e tecido, são encaminhados para outros estados, através do tratamento fora do domicílio.
Fonte: Portal AZ