Em Alegrete, tradicional família Ramos homenageia seu patriarca, Antônio Elpídio Ramos, em memória aos seus 100 anos

Falecido em janeiro de 2013, Antônio Elpídio completaria nesta data 100 anos de vida. Com uma trajetória pautada em muita luta e bons exemplos, deixou todo um legado de trabalho em prol do crescimento do município que amava.

Sarah Maia em 13 de setembro de 2019

Em um verdadeiro mergulho na história de Alegrete e realizando não somente uma homenagem merecida, mas também o resgate de raízes importantes para as atuais e futuras gerações alegretenses, foi que na noite desta quinta-feira (12), a grande e tradicional família Ramos, realizou um evento em memória a um dos maiores ícones do município: seu patriarca, Antônio Elpídio Ramos.

A data, instituída como feriado municipal através da Lei nº 200/2013, homenageia não apenas o fundador de Alegrete, mas relembra a primeira missa realizada no então povoado, em ocasião de seu aniversário, no ano de 1969. A celebração foi viabilizada por ele e conduzida pelo padre Mariano da Silva Neto, vigário de Jaicós. Religioso, Antônio Elpídio trouxe para Alegrete a primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima, hoje padroeira da cidade.

Em tributo a sua fé, uma de suas grandes características, que os 100 anos de Antônio Elpídio Ramos, em memória, foram iniciados na Igreja Matriz, às 19h, com a presença de sua família, amigos, autoridades e população em geral. Enfim, admiradores do legado de Antônio Elpídio.

Um dos momentos mais marcantes foi a entrada na igreja de seus descendentes, filhos, netos, bisnetos e trineta com itens de representação das fortes características de Antônio Elpídio, representadas na fé, na política, na agricultura, na devoção, nos seus feitos de destaque, no amor por Alegrete e enfim, em toda sua trajetória de retidão e doação.

Com participação efetiva de familiares em todas as etapas da missa, a celebração religiosa foi oportunidade para amigos relembrarem o exemplo de fé do homenageado da noite.

Na sequencia, os presentes inauguraram o busto com a imagem de Antônio Elpídio Ramos, na praça que leva o seu nome, no coração de Alegrete do Piauí. O momento foi de muita emoção entre os familiares, cuja memória carrega toda história de vida deste cidadão a frente de seu tempo.

Em ocasião da inauguração do busto, o neto e ex-vereador Tertuliano Ramos reforçou a continuidade do legado de seu avô e de público anunciou ao prefeito Márcio Alencar e aos presentes, a doação de terrenos herdados por ele para a construção de qualquer obra necessária à comunidade.

“Vou seguir esse exemplo de meu avô. Alegrete tem que crescer em amor e em prosperidade. Isso é o importante. Fazer isso com todos unidos” finalizou.

“É uma noite de muito saudosismo. Uma noite que nos faz voltar no tempo. Uma noite que nos faz parar e refletir um pouco sobre o passado e principalmente sobre nossas atitudes. A história de vovô, a qual vimos várias vezes e vamos continuar vendo, repassando ao netos, bisnetos e demais. Enfim, para isso existe a noite de hoje, para que a gente respeite a história. Para a gente saber para onde vai é preciso respeitar de onde viemos” relatou o neto e um dos idealizadores da festa, Reneberson Ramos, sugerindo uma reflexão sobre o passado de todos os presentes, seus familiares e familiares dos amigos de Antônio Elpídio, sobre todos cujas histórias são de luta para fundar uma cidade e buscar o desenvolvimento de um lugar.

“Para Alegrete ser uma cidade hoje, respeitamos todos aqueles que colaboraram no passado junto com vovô e que fizeram história”, disse.

Agradecido por todos os colaboradores, Reneberson Ramos destacou a dedicação de seu tio Erivaldo para, junto com ele, promover este grande evento. “Agradeço por sua sensibilidade, por sua atitude e principalmente, pelo desprendimento. Com certeza, tio Erivaldo, o vovô está muito orgulhoso de você lá em cima”, reforçou.

Inspirado na história de seu avô, Reneberson lembrou que aos 22 anos, ouviu de Antônio Elpídio sua história em promover algo de impacto para sua comunidade aos 40 anos de idade e então trouxe a primeira missa ao Alegrete. “Trouxe a fé, a religião de um povo. Porque sem fé e sem religião não tem como crescer. As culturas se invertem e o lugar não cresce. Eu fiquei por 18 anos com aquilo em minha mente, com esse sonho. Quero dizer ao senhor: estou há 48 horas de realizar o maior sonho da minha vida. Eu queria e tinha que fazer algo pela minha comunidade e eu queria fazer com 40 anos de idade, porque o meu maior ídolo é o senhor. E com 40 anos eu estou fazendo. Eu só quero ser 10% do que o senhor foi aqui. Obrigado por ser minha inspiração”, finalizou emocionado relembrando a conquista da primeira etapa do complexo esportivo da Cohab, em Picos, a ser inaugurado no próximo sábado (14).

Erivaldo Ramos, outro idealizador do evento, relatou o exemplo de homem forte e correto deixado por seu pai, o qual ele segue até hoje.

“Não tenho palavras para descreve-lo pois para mim ele não foi, ele ainda é. Ele está presente. No meu trabalho, no meu escritório, em todos os meus contratos ele está presente. Pois as palavras que ele me disse jamais serão esquecidas. Eu disse ‘Antônio, só te decepcionei, é melhor partir…’ e ele me disse: ‘Meu filho, se é de ir você, vou eu, que sou mais velho. Você vai ser um grande homem.’ Ele me abraçou, chorou e disse: ‘Estou te dando o dinheiro da ida para São Paulo e o da volta você vai arrumar, pois sei quem você é”, relembrou o filho Erivaldo Ramos.

“Todo santo dia eu quero honrar este homem. Pois ele não foi um homem comum, ele foi um profeta. Antônio Elpídio é um homem que me da orgulho (…) Antônio Elpídio não partiu, ele está presente ao lado de cada um de nós. Deus acima de tudo, tudo no tempo de Deus. Enquanto vida eu tiver e a família Ramos existir, nós vamos honrar seu nome onde o senhor estiver”, finalizou.

Em nome dos filhos, Pedro Alcântara Ramos, o filho homem mais velho de Antônio Elpídio, relatou seu lisonjeio por tantas palavras e manifestações de reconhecimento e carinho dedicadas ao seu pai e sua família. Em discurso, ressaltou feitos de seu pai e sua forte ligação.

“Meu querido pai, hoje comemoramos os 100 anos de sua passagem aqui na terra. Você não foi apenas um pai, mas também meu melhor amigo, meu mestre. Ser seu filho é sentir que a vida faz sentido e concluir que sou um pedaço de você para seguir um ciclo e prosseguir sua tradição. É ter a certeza que sua vida valeu a pena, não foi em vão. Saiba que você foi a pessoa mais forte que já conheci. Foi meu super-herói e tudo o que sou hoje devo a você. Todas as decisões em minha vida são baseados em seus conselhos, os quais guardo em minha memória. Minha conduta sempre será inspirada no exemplo de vida que você foi para mim. Meu grande parceiro, sempre se orgulhava de mim, prometo que não vou decepcioná-lo. Continuarei seguindo em frente, sendo justo e passando tudo o que aprendi com você para meus filhos, consequentemente para nossas gerações. Pai, a saudade que sinto é muito forte. Já se passaram 7 anos de sua partida e cada dia você fica mais vivo em minha memória. Onde quer que você esteja, saiba que você foi o melhor pai do mundo e luto para que eu consiga ser, para minha família, tão bom quanto você foi para mim. Quero agradecer a presença de toda nossa família, a presença de seus amigos. Onde você estiver, pode ter certeza, que meu orgulho e admiração por você não tem fim. Ser seu filho é o maior presente que a vida me ofereceu. Quero aqui agradecer a todos as homenagens dirigidas a você. Agradecer ao meu sobrinho Reneberson, pela dedicação à memória do meu pai. Agradecer minhas irmãs e irmãos, especialmente ao Erivaldo, pelo empenho na execução deste evento e, finalmente, a todos que contribuíram para essa belíssima homenagem ao meu querido papai”, disse Pedro Alcântara Ramos.

As celebrações foram encerradas com uma recepção no Centro Esportivo José Amirtes Sobrinho, onde uma grande confraternização ao som de Rômulo Carlos, cover de Roberto Carlos, do sanfoneiro Alvino Luz e ainda do cover de Luiz Gonzaga, o artista Andrews Robson, oportunizou mais momentos de emoção e interação entre familiares e amigos, resgatando uma das mais importantes características de Antônio Elpídio Ramos: as reuniões calorosas.

Antônio Elpídio teve 19 filhos e hoje elencam-se como descendentes, cerca de: 48 netos, 58 bisnetos e 13 trinetos. Familiares orgulhosos de seu patriarca e multiplicadores de seus ensinamentos.

HOMENAGENS

“Seu Antônio, sempre muito brincalhão, chegava para rezar o terço e dizia: ‘Eita que é viúva de marido vivo! Cadê estes maridos que não vem?’ Pois só nós, mulheres, rezávamos o terço com ele, e ele sempre rezava o terço. Eu brincava muito com ele e certa vez pergunte: ‘Seu Antônio e quando o senhor tem visita em casa, como o senhor faz na hora do terço?’ Ele me disse que era assim: ‘Meu amigo, você reza? É não me camarada? Pois meu amigo você fique aí bem sentadinho. Eu vou rezar meu terço e daqui a pouco eu estou de volta. Se você quiser ir comigo, tudo bem. Se não você pode ficar aqui em casa, mas eu vou rezar meu terço.’ E assim ele fazia” relembrou a amiga Amparo, destacando o exemplo deixado por ele para os cidadão de Alegrete, em especial os homens, dos quais muitos hoje participam do grupo do ‘terço dos homens’.

“Como neto dele e como muitas outras pessoas aqui presentes, eu aprendi a amar a Deus sobre todas as coisas. Esse nosso Deus, a quem meu avô tanto amava e tanto procurava dar exemplo para nós seguirmos. Amar seu próximo como a ti mesmo, como padre Pio citou aqui. Era esse seu exemplo de perdão, de amizade, de amor que ele tinha por os seus filhos e por esta comunidade”, relembrou emocionado o seu neto, Tertuliano Ramos.

“Sr. Antônio Elpídio era um homem que estava sempre disposto a servir, a sempre acolher as pessoas com seu sorriso, andava sempre alinhado e arrumado, mas era principalmente uma pessoa de um grande coração. Com certeza teve suas limitações humanas, mas eu gostaria que cada um o carregasse, o guardasse no coração, já que ele agora está na eternidade. Que o dia 12 seja para nós o dia do aniversário de evangelização do Alegrete, pois ele não fez do aniversário natalício dele, de forma alguma, uma oportunidade para anular a palavra de Deus. Foi bem diferente. Ele fez de seu aniversário uma oportunidade das pessoas conhecerem o evangelho” disse o pároco de Marcolândia, Padre Pio Feitosa, amigo e conhecedor da história de Antônio Elpídio.

“Com muita honra e prazer fui contemplado para fazer este requerimento. Quando foi solicitado o requerimento para o busto de ‘Seu Antônio Elpídio’ eu não pensei duas vezes. Porque eu acho de grande importância para nosso município destacar e reconhecer essa pessoa digna, essa pessoa que sempre trabalhou em prol do crescimento de Alegrete, em prol da família, dos amigos e dos vizinhos. Tenho a convicção que ele deixou um legado hoje representado por seus filhos, netos, bisnetos e trinetos. É muito gratificante ser o autor desse projeto, porque é mais do que merecido. Sou feliz também por fazer parte da família Ramos. Não de sangue, mas de respeito e de carinho”, disse o vereador Paulo Lucemberg Alencar, autor do requerimento para instalação do busto e também casado com a neta de Antônio Elpídio, Andreia Ramos.

“Para mim essa noite é uma noite de honra. Uma noite inesquecível que ficará na memória de todos os filhos, netos, bisnetos e trinetos do Sr. Antônio Elpídio. Um homem carregado de adjetivos, um homem que era visionário, que tinha visão ampla, que enxergava longe. Naquele tempo de adversidades, Sr. Antônio Elpídio conseguiu criar seus filhos de maneira linda e sua família hoje é repleta de doutores, de pessoas formadas e estudadas. Apesar de toda dificuldade da época, enfrentou com coragem sua vida, tanto no comércio, quanto na política. Falar de Antônio Elpídio é fácil, meus amigos, pois foi o homem que fundou essa cidade (…) essa noite me honra muito, por estar vivendo esse momento e ter a sorte de ser o prefeito nesta ocasião de inauguração do busto de Sr. Antônio Elpídio. É um prazer prestar essa homenagem na praça que merecidamente já leva seu nome”, afirmou o prefeito Márcio Alencar em discurso.

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Fotos: Ryan