Inflação ‘de guerra’: piauienses sofrem com preços mais altos
Carmo Neto em 05 de março de 2022
Quer um desafio maior do que passar um mês inteiro com R$1.212,00, o valor do salário mínimo no Brasil? Com os preços dos alimentos e dos combustíveis disparando em razão da crise mundial provocada pelo conflito armado entre Ucrânia e Rússia, países emergentes sofrem com sobrepreços. O Piauí não foge dessa realidade.
No supermercado, as pessoas soltam o verbo. “Esse ano o pobre não vai comer nem sardinha, que dirá bacalhau. O material de limpeza está um absurdo. Outro dia minha mãe fez compras para o mês em uma casa com três pessoas e deu R$450 só com material de limpeza”, conta Ana Karina, dona de casa.
Alta já chega aos supermercados – Raissa Morais
Mudança de hábitos
Já Marília Tatiane, também dona de casa, revela que o aumento dos preços levou a mudar hábitos alimentares dentro de casa. “Está tudo mais caro. Carne não dá mais para comprar no supermercado. Tem que ir para o açougue. O quilo de carne tá mais de R$40 e o que antes usávamos para ‘variar’, hoje é o trivial. Até coração e moela estão mais caros”, acrescenta.
Do lado de fora, um ponto de motoristas de táxi.
“Tão dizendo que a gasolina vai chegar a R$10. Se isso acontecer, vamos ver muita gente andando a pé. As pessoas acham cara a tarifa, mas não entendem que além da gasolina no preço que está ainda tem peças e manutenção”, conta Valter Silva, que trabalha como taxista há 20 anos.
Entre malabarismo e muitas contas feitas na cabeça, o brasileiro termina mais uma vez perdendo renda no ano que seria de recuperação da pandemia. Os bombardeios em Kiev, no entanto, dizem exatamente o contrário.
Entenda como a crise atinge o Brasil
Boa parte do mundo está pagando caro, literalmente, pelas ações de Vladimir Putin, presidente da Rússia, sobre o território da Ucrânia. A invasão russa no país vizinho, ex-anexo da antiga União Soviética, traz graves consequências econômicas em nível global, além de milhares de mortes de soldados e civis.
Com as fortes sanções econômicas que o país enfrenta, é esperado um aumento exponencial nos preços dos combustíveis, ferro e até do pão francês em todo o mundo, inclusive no Brasil, que importa estes itens.
Crise global
O desligamento da Rússia do SWIFT, uma das quatro maiores sanções sofridas pelo país euro-asiático após decidir invadir a Ucrânia, é a que conta mais para o aprofundamento de uma crise global. A ameaça feita por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, se torna realidade em um período de instabilidade econômica e política para o globo.
“Isto porque a Rússia é um grande fornecedor mundial de insumos, como, por exemplo, petróleo, gás natural e fertilizantes”, enumera Stefano Lopes, economista.
O SWIFT é um sistema internacional que se constitui em uma plataforma de transações financeiras internacionais.
“É extremamente importante para que os países possam tanto fazer seus pagamentos a fornecedores internacionais quanto receber os pagamentos dos compradores. Um bloqueio ou exclusão, ainda que parcial, a esse sistema dificulta tremendamente a realização do comércio internacional de importações e exportações”, explica o economista.
Conflito terá impacto negativo
O bloqueio econômico da Rússia tem um impacto extremamente negativo para o Brasil, que, assim como boa parte do mundo, tenta se recuperar das mazelas sociais provocadas pela pandemia do novo coronavírus.
A produção de alimentos deve ser afetada pelo bloqueio na economia russa.
“Hoje somos um país do agronegócio. Precisamos de fertilizantes para o solo e a Rússia é o principal fornecedor desse insumo atualmente. Se tivermos problemas com o fornecimento de fertilizantes, o agronegócio do Brasil sofrerá um impacto negativo muito grande e, consequentemente, o PIB brasileiro”, pondera o economista Stefano Lopes.
Combustíveis também são afetados com aumentos – Raíssa Morais
Recuperação
Hoje os países já conseguem, em boa parte do mundo, mostrar uma recuperação. “Neste momento de recuperação tudo o que não se precisa e nem deve ser desejado é uma guerra. Uma guerra traz, além das mortes em decorrência dos ataques militares, problemas sociais e econômicos muito graves e de difícil e lenta recuperação”, alerta o economista.
Economia
A verdade é que sanções econômicas internacionais sempre trazem algum tipo de problema. Praticamente todos os países do mundo praticam o comércio internacional, que depende de outras nações, inclusive a gigantesca economia russa.
“Não existe nenhum país totalmente independente do mercado internacional. Os países sempre importam e exportam para outros países, comprando o que é necessário para atender a demanda interna e exportando para atender a demanda externa. Sanções na Rússia trarão sérios problemas para vários países”, considera.
Bloqueio
A Rússia é uma grande produtora de petróleo e gás natural. Com o bloqueio, principalmente toda a Europa vai sofrer com a questão energética de petróleo e gás.
“Outros países também sofrem efeitos, como o Brasil, que depende muito dos adubos e fertilizantes da Rússia. Vale lembrar que, além de exportador, a Rússia também compra produtos de vários países. Dependendo do tipo de sanções que serão impostas isso prejudicaria a balança comercial de muitas nações, inclusive a do Brasil”, finaliza Stefano Lopes.
Fonte: Meio Norte