Estudantes denunciam que vagas do Fies são vendidas por R$ 6 mil no Piauí
Um acadêmico garante que conseguiu após ter informações privilegiadas. Outro aluno disse que funcionários de faculdades oferecem o financiamento.
Cleiton Jarmes em 06 de fevereiro de 2015
Estudantes do Piauí denunciam que algumas pessoas têm acesso a informações privilegiadas de forma irregular para garantir acesso a uma vaga no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O objetivo é assegurar o pagamento das mensalidades no ensino superior, por meio do programa do governo federal, em faculdades particulares no Piauí. Um acadêmico que preferiu não se identificar disse que funcionários da faculdade onde estuda cobram R$ 6 mil para garantir a vaga.
“A informação que eu tive foi exatamente do dia e do horário que iria ser aberto novamente o sistema, e por isso, eu consegui o Fies. Coisa que eu tentei para vários colegas, já nesse semestre e eles não conseguiram porque, infelizmente, eu não tive essa informação de novo”, denunciou.
Outro estudante, que também preferiu não se identificar, disse que na faculdade onde estuda funcionários oferecem o financiamento. “Eles diziam que a vaga já estava garantida no banco que eles tinham. Eles só iam resgatar essa vaga. Dizendo eles que cobravam R$ 6 mil e que R$ 5.500 era para alguém do banco lá, do financiamento. Eu sei que 90% da minha sala conseguiu pagando”, afirmou.
Ananddha Reis conseguiu o financiamento logo no primeiro período do curso de direito e paga só 25% do valor da mensalidade. Mas a irmã dela, que mora na mesma casa, não conseguiu em outra faculdade. “Todas as vezes que a instituição em que ela estudava abria o sistema de cadastro, já constava que estava lotado, que estava encerrado para inscrições. Passamos mais de cinco anos tentando e nunca conseguimos”, relatou a estudante.
O Fies é um programa do Ministério da Educação que concede financiamento a estudantes matriculados em faculdades particulares. Na página do MEC, o aluno faz a inscrição e pode conseguir o benefício que varia de 50% a 100% do valor da mensalidade. Somente um ano e meio depois de concluído o curso, o aluno começa a pagar o financiamento com juros de 3% ao ano. Mas pra isso, ele precisa se enquadrar em alguns critérios, o principal é que o gasto com o pagamento da mensalidade seja superior a 20% da renda familiar.
Para conseguir o financiamento, o estudante precisa ficar bem atento porque as inscrições são abertas a cada seis meses e são por ordem de chegada. Cada instituição de ensino superior disponibiliza uma cota com um determinado valor. Geralmente em poucas horas as vagas são ocupadas.
Apesar de todas as informações estarem na página do MEC, na internet, são oferecidos serviços de consultoria para conseguir o Fies. Em um dos contatos encontrados numa rede socia, a informação é de que o serviço é gratuito, mas ao ligar o interessado é informado de que para receber as informações tem que pagar. “Eu presto consultoria, é autônoma. A assessoria eu faço para dar certo. Eu cobro o valor de uma mensalidade dependendo do curso”, disse o homem do outro lado da linha.
Em outro momento, ele garante o financiamento de 100%, independemente da renda familiar. “Eu faço para dar certo. Se não for feito de um jeito eu vou tentando por outros caminhos. Vou diminuindo a porcentagem aí depois eu coloco o fiador”, relatou o homem.
Segundo a advogada Lívia Barbosa, esse tipo de serviço é fraudulento e quem faz pode responder por crime contra o sistema financeiro nacional. “A pessoa não pode dar esse tipo de garantia, de que a pessoa vá conseguir o financiamento. Depende da pessoa se enquadrar nos requisitos que são necessários, além de estar em contato com a comissão permanente de supervisão e acompanhamento junto às instituições de ensino superior”, explicou a advogada.
Quem praticar este tipo de crime pode cumprir pena de dois a seis anos de prisão. A assessoria de comunicação do Fundo de Desenvolvimento da Educação, que é responsável pelo Fies, disse que os estudantes que se sentirem lesados ou que tiverem dúvidas, devem entrar em contato através do telefone 0800 616161.
Fonte: G1