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Moradores do Sertão aguardam energia elétrica há mais de 50 anos

Na região do Sertão do estado, justamente a mais pobre, as ligações de residências às redes de energia elétrica, em várias áreas, continuam sendo raridade.

em 05 de maio de 2015

Há mais de 50 anos a aposentada Cipriana Isabel de Alencar, 77 anos, mora na mesma casa simples, de poucos cômodos, paredes de adobo, com frente de chão de terra e um pé de umbu-cajá que já deu dezenas de safras. Uma residência simples, reformada há décadas, com poucas melhorias, semelhante às milhares existentes nos confins do Piauí. A sala principal da casa estava metade recoberta por vagens de feijão (em um bom sertanejês: no ponto de serem disbulhadas). Anunciava uma boa safra (diferente das dos quatro últimos anos).

Cipriana Alencar: entre candeeiro e contador que não funciona. Mais de 50 anos esperando energia elétrica em casa.

Ela, filhos, netos, amigas e amigos, povoam a localidade Roça Nova, zona rural da cidade de São Francisco de Assis do Piauí, 500 quilômetros de Teresina (a comunidade fica outros 40 mais distantes ainda da capital). Mas a distância maior daquelas cidadãs e cidadãos é de mais de meio século das modernidades hoje vividas por boa parte dos piauienses em zonas urbanas.

Cipriana Alencar é uma das mais de 40.000 pessoas do Piauí ainda no escuro (aproximadamente 1,3% da população do estado). A aposentada, que tem como principal passatempo balançar sua cadeira azul (trançada de macarrão plástico), vez por outra pega seu candeeiro (que ilumina a escuridão do lugar à noite) e começa a lembrar das promessas feitas a ela e a todos os moradores de sua localidade.

O prometido era de que “em breve” seriam beneficiados pelo programa do Governo Federal Luz Para Todos. Até espaço para contador de energia há na frente da casa de dona Cipriana. Seis postes também estão próximos à residência. Mas nada de energia elétrica. “Já perdi foi a fé”, reclamou a simpática e receptiva aposentada.

Depois de 11 anos de existência, e do seu lançamento nacional no Piauí, o Luz Para Todos não trouxe energia para a totalidade das zonas rurais do estado. Ao menos 20% dos municípios do Piauí ainda não têm todas as localidades com 100% de interligações com energia elétrica.

Cadê a energia elétrica que era para estar aqui? Principal questionamento de muitos dos sertanejos piauienses.

É fato que o programa ajudou a mudar a realidade de muitas comunidades e de zonas rurais inteiras. Mas o conceito de ser “para todos” não é válida em parte dos municípios piauienses.

Na região do Sertão do estado, justamente a mais pobre, as ligações de residências às redes de energia elétrica, em várias áreas, continuam sendo raridade. Quanto mais distante dos centros urbanos: maior a possibilidade de ser excluído do Luz Para Todos. Prova é a família de dona Cipriana, que mora a 40 quilômetros da sede de São Francisco de Assis do Piauí.

Porcídio e adesivo da ainda Cepisa (hoje Eletrobrás Piauí) prometendo energia para a região em 2010.

Em outras localidades só sobra promessas e abunda reclamações. Como é o caso da família do comerciante Porcídio Fausto de Alencar, 44 anos. A residência dele, que também funciona como bar, fica pouco mais de um quilômetro de distância da casa de dona Cipriana. O bar só vende cachaça, pois não tem freezer para gelar cervejas e refrigerantes. O estabelecimento até comercializa refrigerante, mas é 100% quente.

“Vai encarar?”, brincou o comerciante, destacando que é normal os moradores da região tomarem refrigerante e suco (de pacote) sempre quente. Mas o pior é não ter energia elétrica para poder funcionar uma geladeira. Esse tipo de eletrodoméstico é essencial para poder conservar alimentos. Nessa região do Sertão piauiense os alimentos devem ser consumidos no mesmo dia.

A falta de energia elétrica também deixa a região inteira sem o conhecimento do eletrodoméstico mais presente na casa dos brasileiros: a TV. “Para quê ter uma televisão? Só se for para enfeitar”, disse, irritado, o comerciante.

Detalhe da promessa de instalação de energia. É de 2010. Mas quase cinco anos depois: nada de energia.

“Botaram os postes em janeiro de 2014. Prometeram voltar em 30 dias e até hoje nada”, destaca Porcídio Alencar. Essa não era a primeira promessa. O comerciante também mostrou uma preciosidade na porta de sua casa: um selo da então Cepisa (hoje Eletrobrás Piauí – empresa responsável pelo Luz Para Todos no Piauí) dando conta de que o funcionário de nome Andrei (da empresa terceirizada Majestosa Engenharia) tinha anunciado que o Luz Para Todos na comunidade em 18 de junho de 2010, quase há cinco anos. “Sumiram e depois só vieram colocar o poste e uma cruzeta (em janeiro de 2014)”, revelou o comerciante, que mora no local com a esposa e uma filha.

UM PIAUÍ NA ESCURIDÃO

A reportagem percorreu duas das cidades com localidades ainda às escuras: Paulistana e São Francisco de Assis do Piauí e seus limites com a cidade de Jacobina do Piauí. Foram visitadas mais de 30 comunidades e encontrou-se casos em que o Luz Para Todos é apenas um papel de promessas (muitas delas completando cinco anos).

Postes fincados, mas nada de transformador e nada de fios elétricos. Nada de ligação para as residências.

Constatou-se que em outras localidades foram realizados roçados para a instalação de postes. Em outros cavou-se buracos e colocou-se postes no chão. Em alguns outros os postes até povoam a paisagem sertaneja. Mas não sustentam nada, inclusive até a sustentação de esperança de ter energia elétrica está acabando.

Mas os casos mais graves são das comunidades dessas duas cidades que tiveram transformadores instalados nos postes e solicitação de feitura de caixas para contadores por parte das empresas instaladoras.

Um ano depois os transformadores foram levados de volta pela empresa Stec (terceirizada pela Eletrobrás Piauí para realizar o serviço de interligação das residências em São Francisco de Assis). Em toda essa região só sobrou um único transformador porque um dos moradores não deixou levar. Ele ameaçou os empregados da empresa retiradora do objeto. O transformador continua só de enfeite.

São essas e outras histórias encontradas em um Piauí às escuras. Material que faz parte de uma série de três reportagens que O Olho conta a partir de hoje (com capítulos nesta quarta-feira – 06 de maio – e nesta quinta-feira – 07 de maio), retratando uma área do estado em que a cidadania está apagada e ofuscada.

SEM ENERGIA E SEM CIDADANIA

A cidade de Novo Santo Antônio (a 115 quilômetros de Teresina) foi o município-piloto do Luz Para Todos no Brasil. Muita festa e muita ação midiática foi realizada e 2004 para o que seria uma das maiores ações sociais do Governo Federal em todo o Nordeste nos últimos 20 anos.

Meses depois uma das primeiras cidades a receber promessas de que o programa do Governo Federal abrangeria pessoas de outros lugares seria Paulistana (distante 460 quilômetros de Teresina).

Postes abandonados no limite das cidades de Jacobina do Piauí e São Francisco de Assis do Piauí.

Mas essa realidade ainda não foi vivida pelas 70 famílias comunidade Abelha Branca (a 52 quilômetros do Centro de Paulistana) e quase outras 800 dessa mesma cidade. Nenhuma dessas famílias paulistanenses têm energia elétrica.

Há dez anos a associação de moradores de Abelha Branca luta pelo fornecimento de energia elétrica. As poucas casas do lugar que têm luz é por conta de placas de energia solar doadas pelo poder público municipal. Essas placas carregam baterias de carro e têm duração de pouco tempo. Não dão para ligar geladeira, liquidificador, ferro de passar. A energia acumulada serve apenas para iluminação de poucas lâmpadas. É um artigo “de luxo” que contempla uma minoria de menos de 20% dos moradores da área.

Givaldo Alencar: ele e família ainda vivem na Idade da Vela.

“Ficamos na vela”, destacou o agricultor Givaldo Jeremias de Alencar, 30 anos, casado e pai de dois filhos (de cinco e 12 anos). “Energia elétrica é bom demais, dá para a gente ver televisão, ver as coisas do Mundo”.

O agricultor lamenta por suas crianças. “Elas choram querendo ver, ver filmes, ver os negócios da televisão”. A família de Givaldo só vê a maravilha tecnológica já tão comum na casa da maioria dos brasileiros desde o século passado quando vai para a casa de parentes em outras comunidades. Revelou que passa meses sem saber o que é energia elétrica.

Paulistana é um dos municípios do Piauí com maior número de famílias sem energia elétrica. Mas pior situação está na vizinha São Francisco de Assis do Piauí (cidade com menor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – em território piauiense e um dos dez piores do Brasil).

A cidade, com população quase dez vezes menor que Paulistana, tem mais de 400 famílias sem energia elétrica. E é em São Francisco que ocorrem as piores barbaridades com o uso de recursos públicos e ainda não haver nenhum sinal de energia elétrica em várias comunidades.

Milton da Costa: cansado de ouvir promessas de quando colocarão energia elétrica em São Francisco de Assis do Piauí.

O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Francisco de Assis do Piauí, Milton Onofre da Costa, apontou todas as comunidades com problemas com o Luz Para Todos (mais de 20) e fez questão de acompanhar a reportagem na maioria deles. “Prometeram instalar energia, vieram nas casas, andaram de um lado para o outro, pediram documentos, mandamos; pediram mais documentos, mandamos de novo. Depois botaram os postes em alguns lugares. Botaram até transformador. Sumiram depois disso”, revelou o sindicalista.

Pior foi que nos últimos meses a empresa Stec (da cidade de Petrolina, Pernambuco) realmente voltou à zona rural de São Francisco de Assis do Piauí, mas não foi para terminar o serviço, mas sim para recolher os transformadores já instalados. Só sobraram os postes.

Inês Gomes: dois filhos deficientes, nada de poste e um buraco de poste na porta de casa.

Em lugares como no limite entre São Francisco de Assis e Jacobina do Piauí foram deixados apenas buracos e muitos postes no chão. Todos com data de fabricação e marcação da empresa Stec. Um desses buracos está na frente da residência da pensionista Inês Ferreira Gomes, 62 anos, que mora no lugar com três filhos (dois deles deficientes). Com uma vela na mão disse que aquilo era a única forma de iluminar suas noites.

Perto da residência de Inês Gomes há vários outros buracos, que com as chuvas dos últimos meses viraram poças, há vários postes jogados no chão e já cobertos de muito mato.

TRANSFORMADORES FORAM COLOCADOS E DEPOIS RETIRADOS. POR QUE FIZERAM ISSO?

E por que a empresa Stec retirou os transformadores? Esse é o principal mistério entre os moradores de boa parte da zona rural de São Francisco de Assis do Piauí.

Albertino Gomes e o único transformador de toda a região que não retirado. “Não tirararão daqui”.

De todos os transformadores colocados em 2014 só sobrou um. E o que sobrou termina sendo uma relíquia que lembra como a zona rural da cidade foi esquecida. A não retirada do transformador ocorreu porque o aposentado Albertino da Silva Gomes, 31 anos (deficiente de um dos braços) ameaçou os empregados da empresa. Ele nega, mas vizinhos dizem que ele, com um facão na mão, botou os terceirizados da Stec para correr, ameaçando castrar quem pensasse em retirar o aparelho de energia elétrica.

O transformador foi colocado nas proximidades da casa de Albertino Gomes, na localidade Campestre, em março de 2014. Quando foi em fevereiro deste ano um caminhão da Stec veio até o lugar retirar o aparelho. “Queriam levar mas eu não deixei. Não deixei e não deixo”, disse.

Albertino Gomes mora há quatro anos na localidade com uma filha de três anos, desde que chegou de São Paulo, onde foi acidentado, perdendo movimentos de parte de metade do corpo. Ele nunca viu energia elétrica, muito menos TV e desde então nunca mais tomou água gelada. “Queremos energia, o que não queremos é promessa e muito menos que venham buscar o transformador. Se fizerem isso vai dar confusão”, destacou o aposentado.

A mesma atitude da empresa Stec foi vivenciada pela agricultora Luiza Teixeira Gomes, 51 anos, que vive em uma casa simples da localidade Morros, também em São Francisco de Assis, juntamente com quatro filhos menores de idade, dois deles com problemas graves de saúde. Ela conta que o poste que fica em frente à casa também teve o transformador retirado. “Nem avisaram. Chegaram e tiraram”. Ela diz que se soubesse que é porque estavam retirando o transformador de energia elétrica teria impedido.

Luzia Gomes e três, dos quatro, filhos. Empresa levou transformador da porta de casa. Só sobraram velas para iluminação.

Luiza Gomes é mais outra que depende de vela. Usa duas por dia. Como não tem ventilador, todas as noites têm de fazer um fumacê caseiro, de carvão, para evitar que mosquitos borrachudos invadam sua casa. “Se a gente tivesse um ventilador seria melhor”.

POSTES COLOCADOS A ERMO. EM MUITOS CASOS SÓ TEM BURACOS. E NADA DE ENERGIA ELÉTRICA

Mas em outras localidades de Paulistana e São Francisco de Assis do Piauí sequer houve a instalação de transformadores e muito menos de postes. Na localidade Alagadiço, de São Francisco de Assis, somente foi realizado o roçado, que é a carpina do terreno para ser instalado a linha de energia.

Lugar em que começou roçado de postes. Como nunca instalaram nada: virou estrada em São Francisco de Assis do PI.

O roçado do Alagadiço só teve uma única finalidade até hoje, mesmo quase quatro anos após ser feito, servir como estrada, já que nem os buracos para os postes de energia foram cavados no lugar.

No meio de um desses roçados reside a aposentada Martina Vitalina Coelho, 77 anos, moradora da mesma casa há 34 anos. Era por volta das 19h15 quando a reportagem chegou a casa dela. Já se preparava para dormir, juntamente com dois netos. “Aqui tem é léguas sem energia”, revelou a simpática senhora, carregando nas mãos um candeeiro que exalava uma fedorenta fumaça. O instrumento fedia porque o combustível que o iluminava era óleo diesel, atualmente substituído o querosene na maioria das casas sertanejas piauienses sem energia.

Candeeiro a óleo diesel. Aposentada acha que morrerá e não verá energia elétrica em sua residência.

O querosene é mais luminoso, menos fedorento, mas muito mais caro. O diesel ilumina menos e irrita mais a visão. Ela demorou quase 40 segundos para ver a cara do repórter.

No meio da conversa dona Martina disse temer morrer e não ver chegar energia elétrica em sua casa. Depois de perguntar se a reportagem achava se ali chegaria energia elétrica logo, recebeu uma resposta de desconfiança. Depois se despediu e pediu licença para estender sua rede na casa e dormir. Era antes de 20h. Acordaria às 5h com a luz, não a elétrica, mas a do Sol.

A mesma rotina de dormir cedo, não por querer, mas por não ter o que fazer, principalmente para economizar candeeiro, é vivenciada pela aposentada Sebastiana Raimunda de Sousa, 78 anos, moradora da localidade Gado Bravo, em Paulistana. Ela reside com seu filho, Francisco de Sousa Filho, 22 anos, que sofre de problemas mentais, em uma casa simples, iluminada apenas por um candeeiro e por uma lanterna.

Sebastiana Sousa: sete anos com TV comprada. Nunca viu em casa porque não há energia elétrica.

Sebastiana Sousa também disse temer morrer e não ver energia elétrica em sua casa. Mas seu sonho é poder ver sua TV, comprada há sete anos, na sala de sua casa. A TV funciona, mas está instalada na casa de uma filha, em outra localidade de Paulistana, já contemplada com luz elétrica. “Queria aqui”.

“Muitos já morreram aqui na esperança de terem energia elétrica. Infelizmente não tiveram esse prazer de ter em suas casas”, contou o líder comunitário Osvaldo Mamédio da Costa, 29 anos, que há 11 luta por energia elétrica na região e diz que a energia elétrica é o ponto chave para o desenvolvimento econômico dessas comunidades. “Já disseram que tinham eletrificado toda Paulistana. É mentira”.

Osvaldo Mamédio: luta de dez anos pela instalação de energia elétrica na zona rural de Paulistana.

Osvaldo Mamédio diz que a comunidade continuará lutando por energia elétrica. “Ou colocam energia aqui ou o Governo Federal tem de mudar o nome, pois não tem nada de luz para todos”.

Na casa do pai de Mamédio, o agricultor Mamede José da Costa, 51 anos, olhava com desolação para sua geladeira Consul, bege. Quase todos os dias limpa o mais evidente objeto da sala de jantar da casa. Ela está ali, ainda embalada, e zero quilômetro, sem nunca ter sido usada. Ganhou em dois bingos. Água, semi-gelada, só mesmo nos dois potes da casa.

Mamede Costa: por enquanto geladeira só serve de enfeite. Oito anos adornando sala de jantar da casa.

E assim ficam às escuras as sertanejas e os sertanejos de um Piauí ainda a viver na escuridão, principalmente de ter os direitos básicos. A palavra todos não foi conseguida no sentido do fornecimento de energia elétrica.

BUROCRACIA E BRIGAS JUDICIAIS IMPEDEM QUE COMUNIDADES SEJAM CONTEMPLADAS COM ENERGIA ELÉTRICA

A Eletrobrás Piauí, responsável pelo Luz Para Todos no estado, através de sua assessoria de imprensa, assume que realmente ainda há vários municípios do Piauí em que o programa ainda não contemplou todas as comunidades.

Eletrobrás só nos selos. Energia que é bom, nada. Promessa de fim do drama até o final do ano que vem.

Existe a promessa de que até o final do próximo ano haja a contemplação de todas as localidades. Mas nem todas as casas receberão energia elétrica, já que é sabido que sempre há mais residências novas e que há um fluxo nos últimos anos de volta de muita gente para morar em zonas rurais.

A Eletrobrás Piauí informa também que a meta no estado era de energizar 159.000 residências com o Luz Para Todos e desde o ano passado já tinham sido energizadas 169.000 residências, o que superaria a meta inicial.

A espera de um milagre? Não: a espera de energia elétrica. Essa sim faz milagres no Sertão do Piauí.

A empresa assume que ainda haja, aproximadamente, 10.000 famílias às escuras. A demora de que muitos lugares ainda não tenham energia ou tenham demorado a receber é por causa da falta de investimentos de governos anteriores, sendo que primeiro foi realizado a implantação de linhas de transmissão e subestações. Paradoxalmente toda a região visitada fica a menos de dez quilômetros de duas linhas de transmissão de energia elétrica da Chesf (daquelas que dão para abastecer dezenas de cidades inteiras).

Indagado porque as comunidades visitadas ainda estão sem energia e, principalmente, porque os postes foram colocados e, em algumas comunidades, transformadores retirados, houve a justificativa de que isso ocorre por conta de disputas judiciais entre a Eletrobrás Piauí e as empresas responsáveis pelo serviço.

Briga judicial entre Eletrobrás e empresas deixa parte da população sertaneja do Piauí: sem energia elétrica.

Em muitos casos as empresas ganham as licitações, prometem entregar os serviços e não fazem, sendo que os casos param na Justiça. Em muitos outros as empresas abandonam as obras. E em outras há o criticadíssimo acordo tipo “turnikim”, em que as empresas se comprometem de fazer todo o serviço e só depois receber. Por conta de problemas, terminam sendo punidas e não recebendo. Daí a vingança de instalarem e depois retirarem transformadores, como foi o caso de São Francisco de Assis do Piauí.

A empresa Stec foi insistentemente procurada, mas seus representantes em Petrolina (PE) não quiseram comentar sobre a acusação de retiradas de transformadores em comunidades do Sertão do Piauí.

Os postes até hoje permanecem sem cabos de transmissão de energia. Somente o transformador que fica próximo à residência do aposentado Albertino Gomes, continua contrastando com o mato que toma conta do lugar. Diariamente ele espera por energia e por poder ser um dos contemplados do luz para, por enquanto, não todos. 

* Orlando Berti é jornalista. Atualmente é professor, pesquisador e extensionista do curso de Comunicação Social – Jornalismo – da UESPI – Universidade Estadual do Piauí (campus de Teresina). É mestre e doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (com doutorado-sanduíche na Universidad de Málaga – Espanha). Faz Pós-doutorado em Comunicação, Região e Cidadania na Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente desenvolve pesquisa de etnografia das redações, tentando entender o jornalismo piauiense na prática e os fenômenos sociais contemporâneos. É vice-presidente da Rede Brasileira de Mídia Cidadã.

Fonte: O Olho