Detentos matam companheiro de cela em punição por estupro na Penitenciária de Picos
Mais um detento foi assassinado dentro do sistema prisional do Piauí. No início da madrugada desta terça-feira (07), Reinaldo Lopes de Moura, 33 anos, foi encontrado pendurado em uma das celas do pavilhão D, na Penitenciária Regional José de Deus Barros, em Picos.
Cleiton Jarmes em 07 de março de 2017
Mais um detento foi assassinado dentro do sistema prisional do Piauí. No início da madrugada desta terça-feira (07), Reinaldo Lopes de Moura, 33 anos, foi encontrado pendurado em uma das celas do pavilhão D, na Penitenciária Regional José de Deus Barros, em Picos. Cleiton Holanda, vice-presidente do Sinpoljuspi, explica que os detentos suspeitavam que a vítima havia estuprado a própria mãe, um crime considerado inaceitável, de acordo com uma espécie de “código penal” que se criou entre presos do sistema penitenciário brasileiro.
“Os detentos resolveram julgar o preso. Dentro dos presídios, a condenação para detentos que estupram a mãe é a morte. Os agentes perceberam uma movimentação estranha por volta de meia-noite e encontraram o detento morto, pendurado em uma corda de lençois. Contudo, a perícia constatou que ele foi assassinado e, inclusive, tinha hematomas e várias costelas quebradas. Os presos devem ter matado por espancamento e tentaram simular um suicídio. A vítima não teve chances de defesa ou socorro. Suspeitamos que todos os detentos do pavilhão D tenham participação na morte”, disse Holanda.
O Sinpoljuspi informou que Reinaldo Lopes ( que estava preso há menos de 20 dias) estava preso por tráfico de drogas e violência doméstica contra a mãe. Já a Secretaria de Justiça do Estado diz que contra ele pesavam também as acusações de extorsão e estupro.
José Roberto, presidente do Sindicato, acrescenta que, por pouco, mais um motim não aconteceu no presídio. Durante a vistoria, após movimentação estranha na penitenciária, os agentes peceberam que quase todas as celas do pavilhão C haviam sido arrombadas.
“Os pavilhões C e D têm uma rixa. Quando os detentos do pavilhão C perceberam que estava acontecendo algo no pavilhão ao lado, eles quebraram os cadeados para se proteger de um possível ataque dos rivais e todos estavam no pátio. Os agentes correram um enorme risco”, diz José Roberto que denuncia a superlotação e fragilidade da penitenciária.
Com capacidade para 144 detentos, a Penitenciária Regional José de Deus Barros abriga mais de 400. Em novembro do ano passado, dois detentos foram mortos durante rebelião. De acordo com o Sinpoljuspi, esta é a sexta morte em presídios do Estado em 2017.
“Após a rebelião houve uma pequena reforma, de acordo com o Governo, acompanhada por engenheiros. Contudo, sabemos que a manutenção foi feita pelos próprios detentos e com materiais reaproveitados. Então, quando há qualquer movimentação, os presos conseguem arrebentar com facilidade os cadeados tirando barras de ferro da estrutura”, denuncia o Sinpoljuspi.
Em nota, a gerência da Penitenciária Regional José de Deus Barros, em Picos, informou que ainda está investigando a causa da morte do detento. A Delegacia de Homicídios e o Instituto de Medicina Legal (IML) foram acionados para fazer a perícia e proceder com os encaminhamentos necessários sobre o caso.
A Secretaria de Justiça do Estado abriu sindicância para apurar as circunstâncias em que ocorreu a morte do detento e solicitou abertura de inquérito policial.
Graciane Sousa/ Cidade Verde