‘Vão se danar’, dispara Alcymar contra Marília Mendonça e ‘breganejo’
Após a declaração da cantora Marília Mendonça, durante show em Pernambuco neste fim de semana, de que “vai ter sertanejo no São João, sim”, em referência às críticas de Elba Ramalho e outros músicos sobre uma suposta invasão dos sertanejos e da falta de representatividade dos ritmos tradicionais nas festas do Nordeste,
Cleiton Jarmes em 14 de junho de 2017
Após a declaração da cantora Marília Mendonça, durante show em Pernambuco neste fim de semana, de que “vai ter sertanejo no São João, sim”, em referência às críticas de Elba Ramalho e outros músicos sobre uma suposta invasão dos sertanejos e da falta de representatividade dos ritmos tradicionais nas festas do Nordeste, o músico Alcymar Monteiro divulgou um áudio com duras críticas à cantora goiana. Marília rebateu a polêmica que surgiu após a divulgação das grades dos principais polos juninos da região. O forrozeiro, por outro lado, se demonstrou irritado com a colocação da artista. “Por favor, ponha a sua mão na consciência, você vem lá de Goiás invadir nossa praia. Agora vê se a gente canta lá no teu Goiás. Vocês não deixam. É horrível, não gosto, é de mau gosto, não tem nada a ver, querem acabar com nossas tradições. Vão se danar e deixem a gente em paz”, disparou.
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No áudio, divulgado pelo próprio músico em um grupo do WhatsApp composto por dezenas de representantes do forró, Alcymar chama o trabalho dela de “breganejo horroroso” e “porcaria”. “Essa senhora não tem autoridade para falar nada. Como é que ela vem falar que aqui é lugar de sertanejo? Isso é um ‘breganejo’ horroroso pra cachaceiro, pra quem não tem identidade”, diz em trecho. “Não venha dizer que essa porcaria que você canta é sertanejo, que isso é ‘breganejo’”, critica, citando Tonico e Tinoco e Pena Branca e Xavantinho.
Em entrevista ao Viver, Alcymar disse que a entendeu a fala de Marília Mendonça como uma provocação a Elba Ramalho e aos demais artistas que lutam para garantir o espaço do forró nas programações e confessa que ficou bastante incomodado. “Irritado porque estamos no meio de uma luta pela preservação da nossa cultura (com a campanha Devolva Nosso São João). Ela veio falar mal de Elba, não de uma forma direta, nas estrelinhas, e isso me irritou. Eu achei que era importante responder e dizer que o São João não é uma festa deles, é uma festa nossa”, defendeu o artista. “Ela não tem direito de vir na nossa terra para nos humilhar. Essa gente vem para cá para tripudiar com quem está na luta pelo autêntico forró pé-de-serra. A gente não está pedindo show, mas pela representatividade da nossa cultura”, afirmou.
Em um dos trechos mais incisivos da gravação, Alcymar avisou que iria “baixar o nível” e disparou: “Não venha aqui no nosso terreiro cantar de galo não, viu? Aqui quem canta de galo é galo, galinha aqui não canta não. Entendeu bem? Tá certo? Vá cantar noutro terreiro, deixa a gente em paz”. Sobre essa frase, ele argumenta não ter chamado a cantora de “galinha” no sentido perjorativo e machista da palavra, mas como um reforço de que não teria espaço para a música dela em terras nordestinas. Os “galos”, citados no áudio, seriam nomes como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho “e toda essa gente que representa muito bem a nossa cultura”.
Para Alcymar, a luta não é apenas pelo espaço nos palcos, mas pela garantia de preservação de “tudo o que caracterize a cultura do povo nordestino”, como a gastronomia e vocabulário. “Cada povo tem sua cultura, sua maneira de ser, seu ‘linguajar’. Eu duvido que ela entenda o que significa pra gente o ‘oxente’, ‘vixe maria’, ‘pru mode que’”, exemplifica. “Vê se a gente canta em Barretos ou no Villa Mix! Eu tenho um recado para eles: como dizia Patativa do Assaré, em um de seus poemas, ‘cante lá, que eu canto cá’”, continuou.
Questionado sobre o porquê de excluir artistas do que chamou de música “aculturada”, ele, mais uma vez, é incisivo: “Na minha concepção, não pode ter sertanejo aqui. A trilha sonora do São João é o forró criado por Luiz Gonzaga, são as sanfonas, triângulos e zabumbas. Aquilo que ela canta, ideologicamente, não existe. É uma música ‘americanalhada’, com uma letra vulgar e melodia trivial, feita com o propósito de incutir na novas gerações que isso é bonito. Existe música boa e música ruim, e essa é ruim. Uma música que ninguém sabe de onde veio”
ENTENDA O CASO
Durante a abertura oficial do ciclo junino da cidade de Caruaru, no dia 3 de junho, a cantora Elba Ramalho, um dos ícones do São João nordestino, criticou a programação de Campina Grande, na Paraíba, e reclamou do espaço tomado por artistas da música sertaneja nas grades juninas. “Falei com a Paraíba, reivindiquei porque o São João de lá está muito mais comprometido que o São João daqui. Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Tem espaço para tudo, no céu cabem para todos os artistas, ninguém atropela ninguém. Porém eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa”, disse ela, pouco antes de apresentação na Capital do Forró.
“Aí quando chega aqui no São João, em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar Monteiro, eu reclamei bastante, cara, não ter os trios. Quando chega o São João, se você não tem forró… Eu não quero ir a uma festa que não tenha forró”, comparou, em apoio a campanha Devolva Nosso São João, encabeçada por Joquinha Gonzaga, sobrinho de Gonzagão, e Chambinho do Acordeon, conhecido nacionalmente após interpretar o Rei do Baião no filme Gonzaga: De pai para filho, de Breno Silveira.
Nas redes sociais, a manifestação conta com adesão de cantores, compositores e instrumentistas de vários estados do Nordeste. Eles compartilham textos, vídeos e imagens com os dizeres “Devolvam o nosso São João”, “São João é do Nordeste” e “São João só é grande quando tem forró”, entre outros. As declarações da artista paraibana, amplamente identificada com Pernambuco, tiveram grande repercussão e provocaram respostas da prefeitura campinense e de jornalistas do estado da Paraíba.
No último final de semana, nos bastidores de sua apresentação no São João da Capitá, Marilia Mendonça rebateu as críticas e negou que as portas de Barretos (Festa do Peão) e outros festivais estejam fechadas ao forró: “Isso é mentira. Talvez a porta não esteja aberta porque algo está fora do seu trabalho. Quem tá com trabalho legal tem portas abertas em todas as regiões do Brasil. O segredo é música boa. Não tem nada de um tomar o lugar do outro”. No palco, a cantora defendeu que “vai ter sertanejo no São João, sim”.