Na crise, Nordeste sofre em dobro: com a recessão e a seca
Recessão e seca. O resultado é mais desemprego, menos perspectiva e até mesmo a pura e simples falta d’água para beber.
Sarah Maia em 25 de julho de 2017
Em meio à maior crise econômica da história do país, a região Nordeste vem sofrendo em dobro. Já são uns seis anos de sofrimento, onde a recessão nacional – que afeta de modo especial a ainda frágil economia nordestina – ganha o devastador ingrediente de uma seca que é apontada por muitos como a mais rigorosa das últimas cinco décadas.
Recessão e seca. O resultado é mais desemprego, menos perspectiva e até mesmo a pura e simples falta d’água para beber. O resultado prático dessa mudança é uma reversão de tendência: se no período da bonança víamos trabalhadores voltando da cidade para o campo, agora eles tornam a ocupar as praças das áreas urbanas, esperando um alento.
Os dados do IBGE mostram a dimensão do drama nordestino, na soma da brutal recessão com a longa estiagem. Desde o primeiro trimestre de 2014, nada menos que 2,3 milhões de brasileiros deixaram o mercado de trabalho. Desses, 1,5 milhão (ou 69% do total) são nordestinos; e, dos nordestinos, a maioria (exatos 875 mil trabalhadores) atuava nos setores de agricultura, pesca e pecuária. Resumindo o alcance social do problema: de cada três trabalhadores brasileiros que saíram do mercado desde o recrudescimento da crise, um era trabalhador rural nordestino.
Ainda segundo os dados do IBGE, dos 14 milhões de desempregados no Brasil, 4 milhões estão no Nordeste. Depois da economia rural, o setor da construção civil foi o que mais desempregou na região: 390 mil nordestinos viram evaporar postos de trabalho nos canteiros de obras. É um setor fundamental, especialmente numa região onde a mão-de-obra ainda se recente de maior qualificação.
Se a crise econômica nacional golpeia por um lado, por outro a seca compromete áreas importantes da região, com redução de plantio. E afeta especialmente o trabalhador da agricultura familiar. Sem água, as perspectivas se apequenam. Para completar, a água falta até para beber, como acontece em uns 40 municípios do Piauí, onde o racionamento já oficial.
Os estudos mostram que, na crise, a corda costuma arrebentar primeiro do lado mais fraco. E aí pode-se até dizer que o Nordeste sofre triplamente: pela recessão nacional, pela seca e pela baixa qualificação da mão-de-obra, bem como da baixa sofisticação de alguns setores econômicos. Se antes muitos emigrados voltaram do Rio e São Paulo com alguma qualificação para introduzir em sua terra de origem, agora o velho êxodo se refaz.
São milhares de trabalhadores que deixam o campo. Sem formação. Sem qualificação. Sem perspectiva de emprego. Cheios apenas da esperança, esperança muitas vezes feita apenas da teimosia e da busca de perspectiva. Qualquer perspectiva.
Cidade Verde