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Simone e Simaria relembram época com Frank Aguiar: “Ganhávamos R$ 1 mil”

em 15 de janeiro de 2018

“Chora não, coleguinha!”, elas costumam repetir, como um grito de guerra. Mas, vamos combinar, difícil mesmo é não gargalhar com Simone e Simaria. Lindas, carismáticas e com um astral lá nas alturas, as irmãs roubaram a cena logo em sua estreia como técnicas do “The voice kids”, no último domingo (07/01), na Globo.

Cheia de caras, bocas e reações divertidas no programa, a dupla acabou protagonizando também um sem-número de memes na internet.Sentar no cadeirão vermelho e dar seu veredicto às crianças que passam por aquele palco faz, inevitavelmente, Simone e Simaria voltarem no tempo e no espaço. Quando meninas, em Uibaí (cidade do interior da Bahia com uma média de 14 mil habitantes), elas experimentaram o outro lado, ao serem testadas em muitos concursos e shows de calouros.

Simone e Simaria / (Foto: Reprodução)

“Essa nossa alegria vem de família. Só tem figuraça lá em casa. Sempre foi assim: a pobreza podia estar gritando, mas a felicidade nunca saiu da alma”, afirma Simone, de 33 anos.

CACHÊ DE MIL REAIS

As duas relembram ainda como foi trabalhar com Frank Aguiar. Simaria com 14 anos, já morando em São Paulo com a mãe, a morena teve sua primeira oportunidade profissional como backing vocal de Frank Aguiar, o Cãozinho dos Teclados. Dois anos depois, Simone se uniu à irmã na banda de forró eletrônico.

“Éramos péssimas alunas. Até porque virávamos noites acordadas, Frank Aguiar fazia 30 shows por mês naquela época. Quantas vezes eu passei em casa só para tomar banho e cheguei na escola às 7h sem ter dormido! Desmaiei três vezes em um ano por conta do sonho de concluir pelo menos o segundo grau” revela Simaria.

Na época de backing vocals de Frank Aguiar / (Foto: Reprodução)

Foram sete anos no fundo do palco, até que as irmãs decidiram dar um passo à frente. “Sempre fui visionária, tinha o sonho de ver nós duas juntas, brilhando. A gente precisava arriscar novos caminhos”, afirma a mais velha das irmãs.

“Nosso cachê era R$ 800, R$ 1 mil no máximo. Aí tinha que pagar cada músico da banda, a van que transportava a gente, e não sobrava nada. Passamos necessidade mesmo”, detalha Simone, complementando: Ficávamos pedindo para outras bandas nos deixarem mostrar nosso trabalho. Às vezes permitiam; às vezes, não. Por isso, hoje em dia, sempre que aparece alguém com cartaz pedindo uma chance nos nossos shows, a gente deixa. Já estivemos do lado de lá, sonhando também”.

Simaria, de 35 anos, chegou às lágrimas numa das gravações da audição às cegas, quando apreciou, de costas, uma duplinha de meninas cantar:”Chorei mesmo… Era como se fôssemos nós duas. Quis virar; Simone, não. Ficamos no impasse, e o tempo acabou. Quando pudemos vê-las, a menorzinha, superdesenrolada, perguntou: “Por que vocês não viraram pra gente?”. Ai, senti uma coisa aqui dentro… Tem criança ali que passa pelas mesmas coisas que nós passamos. Nossa avó costurava roupas pra gente se apresentar bonitinha, e uma das candidatas também contou isso”.

Filhas de um garimpeiro e uma lavadeira, as baianas tiveram uma infância muito pobre. A alegria da vida era brincar na rua de bets (jogo de tacos), picula (pique) e elástico. As bonecas eram imaginadas com areia molhada dentro de sacos plásticos, e tubos de desodorante e perfume viravam mamadeiras.

Também era parte da diversão roubar frutas no quintal dos outros e depois fugir de uma coça de fedegoso (planta que tem um cheiro forte), aventurar-se no esconde-esconde com os amiguinhos pelos túmulos do cemitério e se deliciar com as raras vezes em que ganhavam 20 centavos da avó para comprar salgadinhos e balas com mel de goiaba.

“Tinha uma menina riquíssima lá na cidade que ia ao mercado, comprava caixas e caixas de chocolate, juntava os coleguinhas pobres e jogava os doces para cima, só para ver a gente se matando para pegar. Tem criança que é ruim, né?”, relembra Simone, aos risos.

Inesquecíveis também são os passeios no jegue que o pai mantinha como meio de transporte da família.”Ele me colocava numa cangalha; Simone, na outra; e Caio, nosso irmão mais novo, no meio. Então, saía puxando a cordinha do bicho — conta Simaria, sugerindo: — Nossa história daria um filme lindo, sabia? “As duas filhas de Antônio”! Mais do que comer o pão que o diabo amassou, a gente comia farinha com açúcar para matar a fome”, conta.

As duas na adolescência: elas começaram a cantar com 14 anos / (Foto: Arquivo pessoal)

Quando Seu Antônio infartou no banho e morreu, aos 44 anos (em 1992), a situação ficou ainda mais complicada. Dona Mara, a mãe, deixou as crianças com parentes e partiu sozinha para São Paulo, a fim de tentar uma vida melhor. Aí, foram três anos longe dos três filhos.

“Hoje, quando preciso me separar dos meus pequenos por muito tempo, por causa do trabalho, entendo toda a dor, todo o sofrimento da minha mãe, quando ficou distante da gente. Já passei 42 dias sem ver meus filhos. Tem noção do que é isso? Ou você enlouquece ou enlouquece… É difícil demais! Tem hora que dá vontade de jogar tudo para o alto. Não se trata de não ser grata, mas o sentimento de mãe grita. Giovanna (de 5 anos) e Pawel (de 2) são minhas maiores riquezas”, desabafa Simaria, casada com o espanhol Vicente.

Cinco anos depois, o sonho de serem reconhecidas como dupla voltou a falar mais alto. Aos poucos, por influência da legião de fãs que já haviam arrebatado, elas foram conquistando seu espaço na televisão.

“Fomos aparecer pela primeira vez na TV num programa que Adriane Galisteu apresentava na Band (“Muito+”), porque os fãs falavam da gente todo santo dia no Twitter. Torcíamos para que numa daquelas conversas de madrugada nas primeiras edições do “Big Brother” algum confinado citasse nosso nome. E olha só no que deu: no ano passado, fomos convidadas para cantar lá dentro da casa. Quer mais? Nosso backing vocal já participou do “The voice” adulto”.

“Eu pensava: “Ai , meu Deus, tomara que ele fale que canta com a gente, para o povo saber que Simone e Simaria existem”. Hoje somos técnicas do programa infantil! Essa vida é muito “Loka”, não é não?”, reflete Simone, citando, meio sem querer querendo, um dos maiores hits da dupla, gravado com participação de Anitta.

Embora nunca tenham estudado música a fundo nem conheçam termos técnicos do meio, as irmãs não se intimidam, proclamando suas próprias qualidades para ocuparem tal posição de destaque no dominical da Globo.

As duas na época da banda Forró do Muído, quando estouraram no Nordeste / ( Foto: Reprodução)

“Nós somos as populares do programa. Brown é a mente brilhante, o cara que sabe tudo de música. Nunca fizemos aula de canto, mas entendemos o que é afinação só de ouvir. Ele diz que é legal esse contraponto, porque colocamos o nosso jeito, a nossa verdade. Falamos com o coração ” decreta Simone.

Simaria também sai em sua defesa:

“Falei mesmo para Brown, numa gravação: “Não sei identificar se é barítono ou se é soprano, isso eu deixo pra você. O que eu quero é que esse menino cante num tom mais alto”. E dá certo, ele fica impressionado. Também não sei o que é sol, dó, fá… Mas vou lhe dizer uma coisa: sei produzir um CD como ninguém. Eu componho muito, e sem tocar. Fiz a melodia dos nossos grandes sucessos. Os meninos da banda já me conhecem bem. Só digo: “Não quero isso… Essa virada que você fez aí eu quero só uma vez, numa nota menor, que doa mais no coração”.

Eu vou ditando, e eles vão executando

Acumulando as gravações e os programas ao vivo das próximas fases do “The voice kids” com uma média de 20 shows por mês, Simone e Simaria têm tido poucas oportunidades de voltar para suas casas, em Goiânia (GO). Por lá, as irmãs são vizinhas de condomínio; pelos hotéis do Brasil, ficam em quartos a poucos metros de distância. Convivem mais entre si, portanto, do que com as famílias que construíram (Simone também é casada, com o piloto de avião Kaká Diniz, e tem um filho, Henry, de 3 anos). Não é de se estranhar que as briguinhas, comuns entre irmãs, ainda façam parte da rotina das duas.

“A gente quebrava o pau quando criança. Ela vinha para cima de mim até com cabo de vassoura”, entrega Simaria, às gargalhadas.Hoje as desavenças surgem mais por conta do mau humor, aparentemente raro à dupla. “É um tal de “Não me enche o saco, que eu não tô boa hoje!”; “Tu tá feia, gorda, baleia” de um lado, “E tu? Um cabide! Varapau!” do outro… Mas o principal é que a gente se ama muito. Você viu o que fui capaz de fazer quando um fã subiu no palco e derrubou ela, né? (Ao perceber a parceira em apuros, Simone deu um soco no rapaz) Minha irmã é tudo pra mim! Se for preciso, dou minha vida por ela. E sei que é recíproco — declara-se a mais nova da dupla, que define Simaria como “forte, decidida, uma mulher admirável, um monstro para enfrentar a vida”.

Nós somos as populares do programa. Nunca fizemos aula de canto, mas entendemos o que é afinação só de ouvir”, entrega Simone / (Foto: João Miguel Júnior/Rede Globo)

MUDANÇAS NA  CARREIRA

Simaria, por sua vez, ressalta o bom coração da irmã:”Ela é tão boa, tão boa, que tem hora em que eu preciso chamar a atenção, para ela acordar pra vida. Simone cede muito, e as pessoas abusam. Por outro lado, a bicha é pirracenta num grau…Da trajetória sofrida a grandes nomes da sofrência, a dupla Simone & Simaria é atualmente sinônimo de altas cifras: o cachê para shows varia entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, podendo chegar a R$ 1 milhão em campanhas publicitárias. Nada que pague a felicidade trazida pelas coisas mais simples da vida, elas garantem.

“Deus tem nos honrado de uma forma tão linda, vem nos dando conforto… Só que nada disso enche nossos olhos. Se você for na minha casa e na dela, vai encontrar os melhores talheres e louças. Mas se tivermos que comer marmita de farinha com colher de plástico, sentadas no chão, vamos nos lambuzar. E, pra acabar de lascar, ainda vamos descascar uma banana e colocar junto na comida. Não é não, miga?”, provoca Simone.

Fonte: Extra

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