Romarinho, de 18 anos, nunca vai se esquecer da frase: “o professor mexeu errado”. O Atacante do River-PI na Copa São Paulo de Futebol Júnior virou um dos personagens da 50ª edição do torneio de base após uma confusa entrevista no pós-jogo da derrota de 4 a 0 para o Flamengo, ainda na estreia do Tricolor na competição.
A competição terminou como o São Paulo campeão vencendo o Vasco nos pênaltis no Pacaembu. E o atacante quer virar a página da atrapalhada ao microfone. Romarinho, antes mesmo de ir à Copinha, foi apresentado no time profissional do Galo. No clube piauiense, quer seguir adiante com o mesmo desejo quando deixou Picos, interior do Piauí: ganhar o mundo do futebol.
“Com certeza aprendi muito com aquela entrevista, serviu de lição, né? Como muitos falaram que não tenho experiência, serviu para isso também. Sou jovem e tenho muita coisa a aprender ainda. Tenho consciência de que errei”, relembra o episódio na Copinha.
“Acho que ajudei minha equipe como poderia. Acredito que joguei bem, avalio isso como experiência para minha carreira e queria agradecer a Deus por ter dado oportunidade de jogar mais uma Copa São Paulo. Infelizmente, o nosso time não se classificou. Agora é levantar a cabeça e bola para frente”, completou.
O telefone do atacante ainda não tocou depois da Copinha com alguma proposta para ir a outro clube. “Até agora ninguém me procurou, mas é tudo no tempo de Deus. Tenho muita vontade de jogar em algum clube grande brasileiro”, projetou o atacante, de 18 anos.
Qual? “Flamengo sempre foi meu time de coração”, confessou.
Romarinho começou a jogar aos seis anos de idade, chegou a trabalhar vendendo DVD para ter o próprio dinheiro e aliviar as despesas de casa, ajudando assim o pai Xavier, que trabalhava como segurança de carro forte e ficou desempregado há pouco tempo, e a mãe Elza, zeladora.
“Tirava R$ 80 reais por semana, às vezes recebia menos. Cheguei ao ponto de vender DVD para ter dinheiro e comprar minhas coisas”, contou.
Antes de participar pela segunda vez da Copa São Paulo e ganhar salário do River-PI, Romarinho também foi servente de pedreiro, em Picos, sua terra natal. Ajudava em obras.
“A diária era de R$ 50. Perdi alguns anos da escola, viajava pra fazer testes (peneiras de futebol). Quando voltava, não tinha mais chances de passar de ano. Infelizmente, não terminei os estudos (Romarinho parou no 9º ano do ensino fundamental). Tenho muito orgulho dos meus pais, sempre fazendo o que podem para me ajudar. O meu sonho é dar uma vida melhor a eles”, descreveu.
Romarinho chamou a atenção do River-PI quando atuou pelo Piauiense sub-19 no Picos e foi vice-artilheiro do campeonato. A atuação rendeu uma ligação de diretores do Galo, e Romarinho passou a morar no CT.
A história do River-PI na Copinha foi de superação. Foram dois dias na estrada, de ônibus, em 2.500 km de estrada de Teresina até Jaguariúna, interior de São Paulo, sede do grupo na competição. O grupo passou a virada do ano comemorando em um posto de gasolina. A campanha contou com duas derrotas, para Flamengo e Trindade-GO, e uma vitória sobre o Jaguariúna, por 2 a 1, com dois jogadores a menos.
Do grupo tricolor, além de Romarinho, outros sete foram anunciados pelo Galo com contrato com o time profissional. Segundo o coordenador de base do River-PI, Danilo Félix, alguns receberam proposta para deixar o Poleiro, mas optaram em ficar.
Com inspiração de Messi e fã de Neymar, Romarinho espera uma data para poder se apresentar ao CT Afrânio Nunes, casa de treinos do River-PI. Desde quando voltou da Copinha, o jogador está com a família, em Picos. O calendário do Tricolor tem a Copa do Brasil, enfrenta o Fluminense na primeira fase, o Campeonato Piauiense e a Série D do Brasileirão.
“Espero ser usado sim, vou dar o meu melhor, velocidade, habilidade e visão de jogo. Já realizei um grande sonho que era se tornar jogador profissional, acho que é um sonho para qualquer jogador”.
Fonte: Globo Esporte