Após casos de feminicídio no Piauí, delegada diz que mulher é tratada como ‘propriedade’
Administrador em 20 de junho de 2018
De janeiro a junho deste ano, segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública, 17 feminicídios foram registrados no Piauí. Só ontem, terça-feira (19/06), três mulheres foram assassinadas no Estado. Dos 14 feminicídios, 7 ocorreram em Teresina. O número é superior ao contabilizado durante todo o ano passado, quando foram registrados 6 casos na capital.
De acordo com a subsecretária da Secretaria da Segurança Pública, delegada Eugênia Vila, a grande maioria, ou que todos, estão relacionados com a cultura machista impregnada no país, onde a mulher é tratada como uma ‘coisa’ que pertence ao homem.
“O que nós vemos aqui na Secretaria de Segurança, é que há uma resignação do homem em perder aquela mulher. Ele tem aquela mulher como extensão do patrimônio dele, e isso tem tudo a ver com o sistema patriarcal. E aí você volta lá para o feudalismo, em que o pai era proprietário de tudo, inclusive desfolhos e da mulher. Ele [patriarca] tinha o poder de vida e morte, e também de seus escravos. Então a mulher figura como uma ‘coisa’ que ele não pode perder, imagina só você ser desapropriado de uma casa? É isso”, explicou.
Segundo Eugenia Vila, o combate ao feminicídioprecisa da colaboração da sociedade. “Se nós tivermos ciência, a polícia, mesmo que a vítima não queria representar, como muitas vezes ocorre, o que nós vamos fazer…Nós vamos colocar essa moça e esse agressor no radar da assistência social, do Cras, da assistência psicológica. Então, nós vamos estar, sim, evitando um mal maior, o feminicídio”, acrescentou.
“Muita tristeza saber que minha mãezinha me deixou. Eu quero saber o porquê desse homem ter matado a minha mãe. Minha mãezinha, eu queria tanto que ela voltasse”. O depoimento emocionando é de uma adolescente que ficou órfã após a mãe ser assassinada no Residencial Nova Teresina, zona Leste de Teresina.
Francenilda Pereira de Andrade, de 33 anos, foi morta pelo ex-companheiro que não aceitava o fim do relacionamento. A irmã de Francenilda clama por Justiça. “Ontem foi ela, amanhã vai ser outra e mais outra. Eu estou revoltada mesmo, mas tenho fé que a Justiça de Deus vai vingar a morte da minha irmã. Gente, não é fácil perder uma irmã”, desabafou.
Além de Francenilda, Gabriela de Carvalho, de 21 anos, foi morta com uma facada no Pescoço na cidade de Paulistana, a 450 km de Teresina. O marido dela, Nailson de Carvalho, confessou o assassinato. Em Piripiri, a 165 km da capital, a doméstica Irismar Castro também foi morta a facadas pelo ex-companheiro.