Casal é mantido em cárcere privado e obrigado a penhorar bens em motel no Piauí
Carmo Neto em 06 de junho de 2022
Em relato exclusivo ao Portal El Piauí, um casal que pediu sigilo de sua identidade, contou que ficou mantido em cárcere privado e obrigado a penhorar bens para conseguir sair do Sey Lá Motel, localizado na Avenida Presidente Kennedy, no bairro Mirante dos Morros, na zona Leste de Teresina.
O episódio foi registrado na madrugada de sábado (04). De acordo com o homem de 27 anos, de iniciais S. S. J., e a mulher R. B. Mazzerine, de 25 anos (nomes fictícios), tiveram que acionar a Polícia Militar para que uma funcionária do motel pudesse liberar o casal. Entenda a seguir como se deu toda a confusão.
DO AMOR AO ÓDIO
O que seria mais uma noite de amor e prazer para o jovem casal, terminou sendo uma noite de terror, medo, constrangimento e humilhação. S. S. J. entrou em contato com o El Piauí na manhã deste domungo (05) e relatou como tudo ocorreu. Segundo ele, o casal chegou ao Sey Lá Motel por volta das 22h da sexta-feira (03), e ficaram no quarto de número 104.
Lá, o casal não usou nenhum dos produtos ofertados. Por volta das 0h40 do sábado (04), o casal estava pronto para sair da unidade, quando foi solicitada a conta do quarto. O valor total foi de R$ 85,00. S. S. J. pediu que a responsável pelo atendimento apresentasse uma máquina para que o pagamento fosse efetuado. Segundo ele, o pagamento foi feito na modalidade débito. O valor foi debitado imediatamente da conta de S.S. J., mas segundo a funcionária, o valor não teria creditado na conta do Grupo Franly.
“Pedimos a conta do quarto e disse que iria pagar com cartão. Quando a moça veio eu disse que o pagamento era no débito. Eu tinha cerca de R$ 100 na minha conta e não tinha outra forma de pagamento. A única forma era débito. Passei o cartão e ela disse que não havia dado certo porque não tinha emitido o comprovante na maquineta. Eu abri o aplicativo do Banco do Brasil no meu celular e mostrei para ela que o valor havia sido debitado. Ela disse que não e me obrigou a passar novamente. Aceitei e tentei novamente, mas já sabia que não passaria, pois o valor já não estava mais na minha conta e realmente não deu”, contou S. S. J..
Nesse momento, segundo o casal, foi onde se iniciou toda a confusão. As funcionárias do Sey Lá Motel não apresentaram alternativas e pediram para que o casal aguardasse por cerca de 10 minutos para que o banco pudesse estornar o valor. A conta foi paga às 00h52.
Prints feitos em horários diferentes mostram que o pagamento foi efetuado e constava no extrato da conta corrente do titular Foto: Reprodução
Passado o tempo solicitado, a funcionária retornou ao quarto e solicitou que o cartão fosse novamente passado na máquina, contudo, o valor não havia sido estornado o que impedia que a conta fosse aprovada novamente. Diante da recusa do cartão, as funcionárias informaram que não poderiam fazer nada e que o casal teria que aguardar até que o valor fosse estornado para a conta ou creditado na conta do Grupo Franly.
PORTÕES FORAM TRANCADOS PARA IMPEDIR SAÍDA DO CASAL
Sem saber como fazer, o casal então decidiu sair do quarto e ir para o portão do motel, na tentativa de sair do local. No momento chovia forte e as funcionárias passaram cerca de 30 minutos para irem até o local tentar dialogar com as vítimas.
“Fiquei no portão tentando sair. Elas trancaram todas as saídas e disseram que eu não iria sair do motel até que o valor fosse creditado na conta deles. Nesse momento outros casais tentaram sair, mas eu estava na frente. Elas gritavam comigo e com minha namorada para que saíssemos do meio, pois estaríamos impedindo a passagem de outros clientes. Como ficamos na saída 1, eles orientaram para que os demais clientes fossem para a saída 2, pois o portão estaria quebrado. Ficamos totalmente constrangidos, pois as pessoas estavam presenciando toda aquela confusão e estavam nos tratando como bandidos, como se estivéssemos tentando sair sem pagar a conta, sendo que já havíamos pago”, completou.
Uma hora depois, às 01h58 do sábado, o casal já havia tentado sair de todas as formas do motel, mas os portões continuavam trancados e ninguém dava alternativas. Nesse momento, o valor do pagamento continuava debitado da conta de S. S. J..
Uma mulher identificada como Adriana, funcionária do Sey Lá Motel, possivelmente gerente do local, disse que o casal teria que penhorar algum bem para então poder sair, mesmo com o valor debitado da conta, o que comprovava o pagamento. Adriana informou que as funcionárias não poderiam ficar no prejuízo e que a situação é recorrente. Segundo ela, diversos clientes fazem da mesma forma e saem sem pagar.
O casal se recusou a deixar qualquer bem penhorado. “Eu não iria deixar nada meu, pois eu já havia pago a conta. Eu não tinha mais dinheiro e a alternativa que elas me deram foi deixar algum bem para que eu pudesse voltar no dia seguinte. Ela falava a todo instante que elas não poderiam ficar no prejuízo. Mas como? se eu já havia pago. Então eu teria que ficar no prejuízo, mesmo pagando a conta teria que deixar um bem penhorado só porque o valor não constava na conta deles?”, criticou S. S. J..
OUVIDORIA DO GRUPO FRANLY TAMBÉM PEDIU PENHORA DE BENS
Cerca de 1h30 depois, o casal decidiu então ligar para a Ouvidoria do Grupo Franly em busca de uma solução. Através do telefone que consta no perfil oficial do Instagram (86 3233-6300), uma mulher identificada como Márcia, teria sido enfática e insensível ao obrigar que o casal deixasse bens penhorados para que pudessem sair. Quando o casal entrou em contato com a Ouvidoria, as funcionárias do Sey Lá Motel já haviam comunicado o caso. Márcia tinha conhecimento da situação. O casal gravou toda a ligação.
Casal ligou para a Polícia Militar e para a Ouvidoria do Grupo Franly em busca de uma solução para o impasse Foto: Reprodução
“Esse horário os bancos dão muito problema. Se o senhor passar duas vezes e for debitado duas vezes, a empresa vai devolver o valor. Ela não pode liberar porque amanhã esse valor vai sair do bolso dela. O senhor tem que arrumar outra forma de pagamento, deixe algo penhorado aí. Se elas liberarem é certeza que amanhã esse valor vai sair do bolso delas”, disse a funcionária da Ouvidoria.
Sem solução, o casal tornou a aguardar que o valor fosse estornado. Mas sem sucesso, voltou a ligar para a Ouvidoria, que novamente pediu para que algum bem fosse penhorado para que a liberação ocorresse.
“Senhor ela não pode liberar. A empresa vai ficar no prejuízo? A máquina está funcionando normal, desde o começo da noite que ela trabalha. É preciso o valor cair pra empresa para o cliente ser liberado. Eu não posso mandar elas abrirem o portão para o senhor sair, já que o pagamento não consta para ela, porque esse valor vai sair do bolso delas. Elas não podem liberar sendo que não sabem se o valor foi creditado porque aí vai sair do bolso delas. Não trabalhamos com documento, telefone ou nome, é preciso você deixar alguma coisa de valor. Para o senhor ser liberado e preciso que se resolva de uma forma justa, a empresa não pode ficar no prejuízo desse jeito”, voltou a afirmar a funcionária Márcia.
POLÍCIA MILITAR FOI ACIONADA APÓS 2 HORAS
Sem sucesso no diálogo com as funcionárias do Sey Lá Motel e nem com a Ouvidoria, o casal, após ser humilhado e obrigado a penhorar algum bem para sair do local, decidiu chamar Polícia Militar para resolver o impasse. Durante esse intervalo, diversos clientes presenciaram a situação, o que deixou o casal completamente constrangido.
Em diálogo com a Polícia Militar, por telefone, S. S. J. relatou a situação. A PM foi acionada às 01h55. Cerca de 30 minutos depois uma viatura adentrou no Sey Lá Motel e os policiais chamaram o casal para entenderem a situação. Nesse momento, outros clientes também estavam presenciando o diálogo.
“Na hora que a PM chegou no motel, eles foram abordados na entrada pela funcionária Adriana que contou como se deu a questão. Só em seguida eles vieram até meu carro e me questionaram sobre o que estavam acontecendo. Contei toda a história e mostrei para eles o meu aplicativo do Banco do Brasil. Mostrei que o valor havia sido debitado e mostrei o horário do pagamento. De imediato eles determinaram que o portão fosse aberto e eu fosse liberado”, contou S. S. J..
“Ficamos totalmente constrangidos. A empresa não lhe apresenta soluções para resolver um problema que é deles. Ficamos mais de duas horas presos dentro de um motel, sem puder sair e fomos obrigados a chamar a Polícia Militar para resolver e nos liberar. Todo mundo que estava no motel viu a confusão. Ficamos totalmente constrangidos e nos sentimos humilhados”, disse R. B. Mazzerine.
Já na manhã do sábado, por volta das 7h15 da manhã, S. S. J. informou que acessou o aplicativo do Banco do Brasil e realmente o valor havia sido debitado da conta. Não houve falha no pagamento e o comprovante havia sido emitido.
“Foi feita toda uma confusão por algo que eu havia pago e que eu tinha certeza que estava tudo ok. Fui humilhado e constrangido com minha namorada pelas funcionárias do motel e pela Ouvidoria. Espero nunca mais passar por esse tipo de situação e que sirva de lição para que elas priorizem e respeitem os clientes, que possam resolver os problemas e alternativas sejam apresentadas sem desrespeito ao cliente. Vou tomar as providências cabíveis na esfera judicial contra a empresa e contra as funcionárias que nos humilharam”, finalizou.