Interesse da Ásia por colágeno de jumento aumenta abate de animais no Nordeste
Carmo Neto em 13 de setembro de 2023
Através da voz única de Luiz Gonzaga, nas expressões da literatura de cordel e nas obras das artes plásticas, o humilde jumento emerge como um personagem central na rica narrativa do Nordeste brasileiro. No entanto, apesar de sua profunda importância histórica e social, a sobrevivência dessa espécie agora enfrenta sérios desafios, deixando-a vulnerável e em perigo.
Ao longo de 2023, até setembro, o Brasil abateu 19.978 asininos, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. Desde 2017, o Brasil abateu cerca de 200 mil asininos, o que equivale à metade da população desses animais no país, segundo o último censo agro do IBGE.
A regulamentação do abate de jumentos no Brasil em 2016 foi uma medida para minimizar o problema do abandono desses animais nas zonas rurais do Nordeste. Com a popularização das motocicletas, os jumentos perderam sua utilidade econômica e passaram a ser deixados à própria sorte.
Além de minimizar o problema do abandono de jumentos, os abates no Brasil também atendem à demanda chinesa por carne e couro da espécie. O interesse está relacionado à fabricação de ejiao, um fármaco popular na medicina tradicional asiática que é feito a partir do colágeno de jumento. O produto gelatinoso é considerado um “elixir milagroso” e promete retardar o envelhecimento, prevenir tumores e impotência sexual. Ele pode ser encontrado na internet por cerca de R$ 590.
A diminuição significativa da população de jumentos no Brasil levou ativistas da causa animal a pedirem o fim do abate desses animais. Segundo eles, a prática é cruel e põe em risco a espécie, que é um patrimônio genético único. Yuri Fernandes, coordenador jurídico da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, afirma que, embora a prática não seja ilegal, ela fere os artigos 32 e 225 da Constituição brasileira, que protegem os animais e o meio ambiente.
A produção de jumentos para o abate no Brasil é diferente da de outros animais, como suínos e bovinos. Não existe uma cadeia específica para essa atividade, e os animais são coletados de diferentes estados e enviados para os frigoríficos. Essa situação coloca os animais em situação de vulnerabilidade, e há denúncias de maus-tratos durante o transporte e nos locais onde os animais aguardam o abate. Em 2018, a Justiça da Bahia proibiu a prática no estado, onde estão os principais abatedouros de jumentos do país.
(Com informações do Globo Rural/O Globo)