No Piauí, pai de sete vítimas diz que mulher líder de seita obrigava adolescentes a ingerir fezes
Administrador em 08 de fevereiro de 2018
Rogério dos Santos, 37 anos, contou ao G1 nesta quinta-feira (8) detalhes dos momentos vividos junto com a mulher, ainda não identificada, suspeita de liderar uma seita religiosa. Dentre as humilhações, adolescentes tiveram que ingerir fezes de animais. Ontem (7) quatro jovens foram resgatados no local. Rogério disse que espera que ela pague por ter destruído sua família. Polícia já colheu depoimentos e Conselho Tutelar acompanha o caso.
Tudo teve início em janeiro de 2017, na cidade de Marabá, no Pará. A mulher abordou Rogério e sua esposa e os convenceu a abandonar tudo e vir para Teresina, no Piauí. “Ela disse que nossa cidade era de trevas e que no Piauí eu teria sucesso, seria rico, mas depois de um tempo eu percebi que não era bem isso”, disse ele ao G1.
A conselheira tutelar Francisca Moura, da Zona Sudeste de Teresina, informou que o local onde as vítimas foram encontradas era extremamente insalubre, mas que os jovens chamavam o lugar de “paraíso”. “Era uma verdadeira lavagem cerebral. Os adolescentes eram extremamente explorados, mas não percebiam isso”, declarou.
O pai relatou que foi morar com a suspeita, sua esposa e sete filhos, de 7, 10, 13, 14, 15, 16 e 18 anos, na época. No Pará, ele e a esposa largaram emprego e venderam todos os pertences. A líder da seita, segundo ele, pediu que ele vendesse sua casa e lhe desse o dinheiro, mas ele não aceitou.
Horrores
Dentre as diversas práticas relatadas pelo pai dos adolescentes, há exploração de trabalho infantil, sexo com menores e extremos maus tratos. No local, segundo o pai, no período em que morou com a suspeita, pelo menos 15 crianças e adolescentes foram vítimas.
“Ela fazia uma verdadeira lavagem cerebral dizendo que eles tinham que se purificar para Deus, para serem dignos de sucesso no futuro. Que para serem ricos, tinham que pagar penitências”, disse o pai.
As crianças era obrigadas a passar noites sem dormir, porque, segundo Rogério, a mulher dizia que “a noite era de trevas e eles tinham que vencer as trevas”. Enquanto isso, eram obrigadas a fazer cocadas – doces com coco e leite condensado – que vendiam durante o dia.
“Para vender, às vezes eles saíam cedo de Teresina e andavam até Campo Maior [cerca de 80 km de distância]. Lá eles tinham que vender tudo para trazer dinheiro a ela. Com isso ela se mantinha. O objetivo dela era esse, ser sustentada pelo trabalho deles. Ela era acomodada, não fazia nada, só colocava as crianças pra trabalhar”, relatou o pai.
Com o dinheiro, segundo Rogério, a mulher mantinha apenas a si e os filhos biológicos – não há informação de quanto eram. Os “fiéis” viviam a “cuscuz e água”. “Era só isso que eles comiam o tempo todo e ela dizia que isso era para eles se purificarem para Deus, porque estavam com o demônio no corpo. Mas ela comia de tudo, do bom e do melhor, sempre bem vestida”, disse ele.
O pai relatou ainda que a mulher obrigava, em alguns momentos, os seguidores e fazerem jejum, podendo ingerir por dias apenas água e sucos. Em situações extremas de humilhação, os jovens eram obrigados, segundo ele, a ingerir fezes de animais e beber lama.
“Era muita humilhação, ela obrigava eles a fazerem coisas horríveis. Minha filha teve que fazer isso. Eu quero que ela pague por tudo que ela fez com eles. Isso não se faz com ninguém”, declarou.
Resgate
O pai e a mãe das crianças ficaram com a mulher por cerca de cinco meses, porque os filhos mais velhos não queriam ir embora. Após oito meses, a filha de 15 e o filho de 18 resolveram abandonar a líder. O outro garoto, hoje com 17 anos, ficou.
Em outubro do ano passado, a família toda voltou ao Pará sem o garoto. Segundo o pai, o objetivo era não deixar ninguém, mas o menino desapareceu por meses. Somente agora, um ano depois de virem ao Piauí pela primeira vez, conseguiram localizar o filho.
“Chegamos na casa e ele estava todo sujo, maltratado, com os sapatos furados, mas não queria ir embora. No Pará eu me informei de tudo e eles me orientaram, então eu fui com o Conselho Tutelar e a polícia”, declarou.
O Conselho e a Delegacia de Campo Maior acompanham o caso. Todos os jovens que estavam na casa no momento, um total de quatro, foram resgatados. A mulher continua solta e o Conselho Tutelar fez o pedido de prisão da mulher, que até o momento não foi decretada.
“Estamos aguardando que seja pedido. Quando fomos na casa, ainda não havia mandado contra ela, apenas de busca e apreensão dos jovens”, declarou a conselheira Francisca Moura.
“Ela tem que pagar pelo que fez. Ela disse várias vezes que não tinha medo de Justiça, mas quero ver agora. Ela destruiu minha família, me destruiu emocionalmente, espiritualmente e financeiramente. Meus filhos mudaram comigo, está tudo mudado, nada é como antes”, lamentou o pai.
Fonte: G1 PI