Paciente morre engasgado com carne em município do Piauí; UBS não tinha equipamento para intubação
Carmo Neto em 28 de outubro de 2020
João Erasmo de Carvalho, 80 anos, morreu nessa segunda-feira (26) após se engasgar com um pedaço de carne, na cidade de Conceição do Canindé, a 339 km de Teresina. De acordo com familiares, a falta de um equipamento para intubação pode ter custado a vida do aposentado. O secretário de saúde da cidade reconheceu a falta do equipamento. A Secretaria Municipal de Saúde ficou de se posicionar posteriormente.
De acordo com a família e conforme anotação na ficha médica do paciente, o procedimento de intubação, para que o idoso pudesse respirar com ajuda de suporte de oxigênio, não foi possível pela falta de equipamentos. O secretário de saúde da cidade, José de Arimatéia Costa, relatou o problema.
“Realmente faltou a mangueira do aparelho de oxigênio, pra fazer a intubação, mas ele já chegou lá muito mal. Depois desse problema nós já estamos providenciando a mangueira e estamos esperando chegar”, disse o secretário.
Na ficha médica do paciente, o problema também foi descrito, assim como todo o socorro ao idoso:
Paciente trazido por familiares com história de engasgo. No momento da admissão: desacordado, em apneia, cianose de extremidades (mãos e pés arroxeados). Pressão arterial inaudível, oxímetro não conseguiu aferir SPO2 e FC (saturação de oxigênio e frequência cardíaca). Paciente evoluiu com parada cardiorrespiratória, onde foi realizado o protocolo de RCP (ressuscitação cardiopulmonar) por 25 minutos. Não foi realizada intubação por falta de equipamento na unidade. Foram utilizadas 5 ampolas de adrenalina, porém as manobras de RCP evoluíram sem sucesso, sendo constatado o óbito às 20h25.
Landolfo Duarte da Fonseca, médico que não atua na cidade, mas que foi até a Unidade Básica de Saúde a pedido dos familiares de João Erasmo, descreveu a situação que encontrou no local.
“Faltavam vários aparelhos necessários para fazer a intubação. Não sei se ele teria sobrevivido, poderia ter sequelas porque ficou muito tempo sem oxigenação, mas garantindo a liberação da via aérea, era possível levar ele para outro município e fazer um procedimento mais complexo, depois fazer a retirada do corpo estranho. Mesmo que ele tivesse aspirado para um pulmão, com a intubação ele poderia respirar com o outro pulmão compensando. Ele poderia ter tido uma chance. Ainda tentei reanimar ele com outro médico, mas não conseguimos”, disse.
Segundo ele, faltavam as pilhas do laringoscópio, cânula para intubação endotraqueal e um fio guia. Todos os equipamentos necessários para a intubação.
De acordo com a família do idoso, eles pretendem acionar o município judicialmente. “Ele era saudável, não tinha doenças, só se engasgou. Ele morreu à míngua, poderia ter sido salvo. Depois do enterro vamos tomar providências sobre essa situação”, lamentou um sobrinho de João Erasmo, Waldemi Sena.
Fonte: G1 PI