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Sem delegacia, população percorre mais de 100 km para registrar BO no Piauí

em 24 de outubro de 2017

Agricultor viajou mais de 100 Km para registrar boletim de ocorrência (Foto: Reprodução/TV Clube)

A equipe da TV Clube percorreu todo o Piauí para mostrar a situação da segurança pública no estado. Na região Sul, a repórter Neyara Pinheiro encontrou delegados responsáveis por mais de 10 cidades, o que dificulta as investigações e a assistência à população. Há municípios em que os moradores precisam viajar mais de 100 km para registrar um boletim de ocorrência.

As terras de seu Eurico estão sendo invadidas, há quase um ano ele percorre quase 103 km, uma parte por estrada de terra, debaixo do sol escaldante do Piauí para denunciar o caso. Ele pedala uma longa distância e depois pega uma van com destino à delegacia de Paulistana, cidade onde fica o distrito mais próximo. “É sofrimento. Tem muita poeira porque no local não tem nada que preste”, lamentou o agricultor.

A viagem da professora Rita Rodrigues até uma delegacia também é longa. Ela percorre 150 km de Baixa Grande do Ribeiro até a cidade de Uruçuí, para denunciar o ex-marido que não está cumprindo a medida protetiva que lhe obriga a ficar afastado dela.

“Eu poderia resolver isso na cidade, mas tem que fazer esta viagem. Aí a gente acaba desistindo de denunciar. Eu tenho medo porque até conseguir chegar aqui é uma longa viagem”, declarou.

O Piauí tem 195 delegados, apenas 68 delegados para dar conta de 223 cidades do interior. Ramon Cavalcante é um recordista. Ele tinha a missão de cuidar de 13 cidades com uma população de mais de 100 mil habitantes. “Infelizmente, eu consigo visitar somente quatro cidades”, diz o delegado.

Em protesto, Ramom e mais 19 colegas entregaram o cargo de delegados regionais. Agora, eles só viajam em algumas exceções. A entrega coletiva das funções deixou uma centena de cidades sem delegados e deixou cerca de 700 pessoas desassistidas.

“Quando há um homicídio ou estupro a gente tem que se deslocar para poder fazer a cena do crime. E quando isso acontece fechamos as portas da delegacia para irmos para outra localidade porque não tem condições de eu ir sozinho investigar estes crimes graves e ao mesmo tempo não posso deixar uma pessoa sozinha no distrito. Isso é comum porque o efetivo é pouco. Não temos condições de fazer uma investigação digna contando apenas com três agentes e um escrivão”.

Luciano Santana era o titular da delegacia de Simplício Mendes. Ele sozinho respondia por 10 cidades com uma população de quase 60 mil pessoas e para isso o estado só forneceu três agentes de campo. “Eu não conheço todas as cidades. Até porque estes municípios ficam distantes de Simplício Mendes. E não tenho condições de percorrer todas estas cidades. Além disso, não há combustível para fazer este trabalho. O estado não fornece combustível suficiente para fazer estas viagens. É um trabalho que não conseguimos dar conta”, ressaltou o delegado.

“Infelizmente o delegado se vê obrigado a fazer uma triagem como se fosse um pronto socorro para decidir qual situação entre vida e morte vai investigar. É uma situação de caos total, de desassistência total que o Estado não provê os meios e a gente não tem condições de prestar o serviço à população”, afirmou Andréa Magalhães, presidente do Sindicato dos Delegados do Piauí.

O último anuário de Segurança pública apontou o estado como o que menos investigou em segurança pública no país. Em 2014, o investimento por pessoa foi apenas de R$18,48. Em 2015, os recursos até aumentaram, foram para R$ 71,36. Contudo, estados como o Acre, por exemplo, investiram mais de R$ 500 por habitante.

“A situação é de penúria e isso favorece ao crime porque acontece quando há oportunidade. Hoje, toda a população do estado do Piauí está vulnerável”, afirmou Andréa Magalhães, presidente do Sindicato dos Delegados do Piauí (Sindepol).

Na cidade de Guaribas não há delegacia, a cidade tem apenas um policial militar para fazer a segurança do município do interior que possui 4.489 habitantes.

O agricultor Carlizé teria que viajar 138 km em estrada de chão para registrar um boletim de ocorrência e sem transporte, o agricultor desistiu de acionar a polícia. Ele levou uma vida para juntar R$ 5.450 mil que estavam guardado para comprar uma moto. Até que bandidos armados invadiram a casa dele e roubaram tudo.

E quando não falta delegado, falta delegacia. Há seis meses, Diego Pascoal foi nomeado delegado de Baixa Grande do Ribeiro e Ribeiro Gonçalves, no Sul do Piauí. A região é produtora de soja, mas na hora de assumir o cargo descobriu que em nenhuma das duas cidades havia uma delegacia. Ele era um delegado sem teto.

“A minha estrutura de trabalho é nenhuma. Eu não tenho prédio, computadores e nenhuma estrutura para receber a população. Eu tenho apenas auxílio de um agente de polícia e de um escrivão”.

Para trabalhar, o delegado de Uruçuí emprestou uma sala para Diego Pascoal que divide o ambiente com outro colega que também foi nomeado e não teve estrutura.Os dois novos delegados também não possuem carro.

“Quando eles saem na viatura, a gente fica sem carro. A cota de combustível também é a mesma para todos. Tanto que no final do mês haverá um racionamento para a gente não esgotar a cota de combustível. Algumas demandas deixam de ser atendidas”, lamentou o delegado Célio Benício.

O delegado geral, Riedel Batista, explicou como é feita a distribuição de delegados e escrivão. Ele explica que em toda cidade onde há juiz e promotor conta também com delegado.

“O efetivo de 3.400 policias civis seria o ideial, esse aumento 100% previsto em lei. Atualmente temos 1.700 agentes e vamos realizar um concurso para diminuir esta diferença e aumentar quantidade de delegado e escrivão ao longo de 2018.

 G1 Piauí

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