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Sem exame de DNA, mãe espera liberação de corpo da filha há 20 meses

Corpo da jovem que morreu em 2015 ainda se encontra no IML de Teresina. Piauí tem um perito criminal para cada 50 mil habitantes, denuncia sindicato.

em 23 de janeiro de 2017

Instituto de Criminalística do Piauí (Foto: Yara Pinho/G1)

Há 20 meses, a dona de casa Maria Antônia da Silva espera a liberação do corpo da filha assassinada em 2015. Para a liberação são necessários os resultados dos exames de DNA que estão sendo feitos em outro estado e que nunca chegaram ao Instituto Médico Legal (IML) do Piauí.

“Eu já fui ao IML várias vezes e a resposta é que não chegou(sic) os resultados. Uma coisa que me deixa zangada lá é que fico na espera e nada sai. Ainda sou atendida com ignorância”, contou a mãe.

A família da jovem, que morreu queimada, reclama da demora e da falta de resposta do IML, que não da previsão de quando o corpo deve ser liberado. “Todas as vezes que a gente vai lá é a mesma resposta, que os resultados não chegaram, mas que estão perto de chegar e que só depois disso é que entraram em contato da família para liberar o corpo”, falou.

O diretor do Polícia Técnico-científica, Antônio Nunes, afirmou que existe a previsão para a construção de um novo prédio para o Instituto com a inclusão de um laboratório para a realização de exames de DNA. A obra foi orçada no valor de R$ 3 milhões. Sobre os exames atuais, o diretor afirmou que as amotras estão sendo encaminhadas para laboratórios conveniados em outros estados.

De acordo com o Sindicato dos Peritos do Piauí (Sindiperitos/PI), 99% dos casos que tem a necessidade de exames de DNA estão suspensos por conta da falta de um laboratório no estado.

Entenda o caso
Juliêta Castelo Branco, diretora do Instituto de Criminalística do Piauí, alerta que desde fevereiro de 2016 os inquéritos policiais que precisão de exames de DNA para serem concluídos estão totalmente parados por falta de material e pessoal.

Segundo ela, todo o material que é coletado para a realização dos exames é apenas guardado. A análise não é feita por falta de pagamento para a empresa que fornecia os kits de coleta, além da falta de pessoal e de um laboratório próprio.

“O Piauí é um estado que não tem laboratório para realizar tal atividade. Todo o material é enviado para o estado de Pernambuco, mas a falta de pagamento de diárias e passagens, além da falta de pessoal está afetando o andamento desses casos que necessitam de exames de DNA. Nós temos apenas duas peritas que realizam análises, uma está de licença maternidade e outra está na reta final de sua gravidez”, contou.

Faltam peritos
Com 65 peritos criminais em atividade, o Piauí tem uma das menores proporções de profissionais em relação à outros estados. Segundo o Sindicato dos Peritos Oficiais do Piauí (Sindiperitos-PI), o estado tem um perito para cada 50 mil habitantes, embora a Assoaciação Brasileira de Criminalística (ABC) recomende um profissional de perícia para 5 mil pessoas. O G1 tentou falar por telefone com a assessoria do governo do estado, mas ninguém foi encontrado.

Juliêta Castelo Branco, diretora do Instituto de Criminalística (Foto: Ellyo Teixeira/ G1)

De acordo com Julieta Castelo Branco, a falta de profissionais aliada a problemas de infraestrutura evidencia o nível de sucateamento do Instituto de Criminalística do estado, que não consegue atender à alta demanda do judiciário por perícias.

“Os laudos são imprescindíveis para a elucidação de crimes, mas com a falta de pessoal, de estrutura e ausência de polos nas cidades do estado acaba afetando o nosso trabalho e o trabalho do judiciário no andamento dos processos que necessitam de perícia. A situação do Instituto de Criminalística é caótica’, disse.

Ainda segundo a diretora, em alguns setores como o de entorpecentes possuem apenas dois peritos.“Temos dois profissionais para uma demanda gigantesca de todo o Piauí. Um fica responsável pelos laudos do interior e outro da capital, praticamente impossível. Dessa forma não conseguimos atender aos pedidos judiciais com aqueles processos que necessitam de um resultado mais rapidamente”, relatou.

Outro problema é a falta de polos nas cidades mais afastadas da capital. “Quando ocorre um crime na cidade de Corrente, por exemplo, ficamos sem ter como atender a demanda, já que são 874 km ao Sul de Teresina. Em Picos, nós só temos quatro peritos e eles não conseguem seguir sequer a escala de plantão. Diariamente acompanhamos casos que deixam de ter a investigação necessária por falta de perícia. Os prejuízos à população são infindáveis. Além da carência de peritos, faltam laboratórios de DNA e Toxicológico, equipamentos, e até mesmo veículos para deslocar as equipes”, denunciou.

G1 Piauí

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