Ao menos uma mulher foi estuprada por dia no Piauí até agosto de 2020, diz Samvis
Carmo Neto em 26 de agosto de 2020
O Piauí registrou, entre os meses de janeiro e agosto de 2020, 248 casos de violência sexual, segundo dados do Serviço de Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Samvis) obtidos pelo OitoMeia. Ao menos uma vítima foi estuprada por dia no estado no decorrer de oito meses.
Essa estatística, no entanto, não é nova. É quase a mesma média divulgada em julho do ano passado. Na época, eram 260 casos e ao final de 2019 esse número aumentou para 516.
De acordo com informações do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em 2019, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, do total de casos de violência sexual, as mulheres representam 81,8%, sendo que 63,8% das vítimas tinham até 14 anos de idade. Destas, 26,8% tinham no máximo nove anos. Entre meninos essa idade é ainda menor, sete anos. A maior parte das vítimas conhecia o agressor.
Segundo o Anuário, em 75,9% das ocorrências o responsável pela violência sexual era um parente, companheiro ou amigo. Em 85% dos casos o estuprador era do sexo masculino.
Vale ressaltar que o número obtido pela reportagem pode ser ainda maior, uma vez que nem todos os casos deste tipo de violência chegam ao conhecimento do serviço.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO AS MAIORES VÍTIMAS
Em reportagem anterior, o OitoMeia entrevistou a titular do 4ª Conselho Tutelar de Teresina, Socorro Arraes. A conselheira afirmou que em 2020, 24 vítimas de até 13 anos haviam sido abusadas sexualmente apenas na zona Leste da capital. Em 2019, o Conselho Tutelar registrou 60 casos de estupros na quarta zona de Teresina.
No mesmo final de semana em que essa reportagem foi divulgada, mais duas vítimas foram feitas. A primeira foi uma criança de 11 anos, no bairro Planalto Ininga no sábado (22). Ameaçada pelo agressor com uma faca. A segunda uma menina de 10 anos estuprada durante uma festa no povoado Santa Luz, na zona rural Leste de Teresina. Os pais chamaram a Polícia. O agressor chegou a ser preso, mas foi solto em seguida. As informações foram divulgadas pela TV Clube.
De acordo com Socorro Arraes, mesmo quando acontece com crianças, as vítimas ainda são culpabilizadas. Esse é um dos motivos pelo qual esse tipo de denúncia sobre o abuso não ultrapassa os portões de muitas residências. O crime é mantido como um segredo familiar e a criança obrigada a conviver com seu próprio algoz.
Segundo a conselheira, a maioria das denúncias contra os abusadores são realizadas por parentes próximos ou vizinhos da família, através do Disque 100, do próprio Conselho e Polícia. O procedimento para fazer a denúncia segue alguns passos: deve-se prestar um B.O na delegacia, onde se consegue uma requisição para o exame no corpo da vítima. Caso a vítima seja do sexo feminino passará por uma triagem no Serviço de Apoio à Mulher Vítima de Violência Sexual (Samvis). Se for do sexo masculino será encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML). Tanto o Conselho, quanto o Ministério Público Estadual (MP-PI) devem acompanhar o caso de perto.
Via OitoMeia