Sem plantonistas, mães fazem alimento de pacientes em Hospital Infantil do Piauí
Mães gravam um vídeo onde é possível observar as mesmas manuseando equipamentos do local para fazer a alimentação de bebês e crianças que ficaram sem comida das 18h até por volta das 23h, quando a cozinha foi aberta.
Sarah Maia em 17 de abril de 2017
Em imagens gravadas na noite deste domingo (16), mães de pacientes do Hospital Infantil Lucídio Portela, preparam a comida dos filhos nas instalações do local por conta da ausência de plantonistas. No vídeo é possível observar algumas mães manuseando equipamentos do local para fazer a alimentação de bebês e crianças que ficaram sem comida das 18h até por volta das 23h, quando a cozinha foi aberta.
A mãe que fala no vídeo é Lindinalva Rodrigues, segundo ela, até pacientes na UTI do Hospital Infantil estavam sem se alimentar. Foram elas que prepararam e distribuíram a alimentação para os pacientes. “Faltaram três de uma vez e as crianças ficaram simplesmente sem se alimentar. Só não ficaram mais tempo porquê eu e outra mãe nos prontificamos, entramos no lactário e fizemos a alimentação de mais de 10 crianças. Foi aí que um funcionário se prontificou a pagar um táxi para outra funcionária que estava na rodoviária e veio direto de viagem pra cá. Só uma”, disse a mãe.
As mães denunciam que a falta dos servidores não é o único problema. Segundo as mães, a infraestrutura para atender aos 79 leitos está sucateada além da carência de medicamentos que seria constante. “Um remédio que custa R$ 6 está faltando no hospital. Um remédio que na farmácia é barato não tem no hospital. Enfermaria tem leito interditado porquê quando chove aqui fora chove no hospital. O local que deveria ter mais suporte para as crianças está lá isolado porquê não pode ser usado. Os corredores do mesmo jeito. Salas sem ar-condicionado. É grave”, completou a mãe.
Para esclarecer a situação e tirar as dúvidas das mães ouvidas na matéria, o diretor geral do Hospital Infantil Vinícius Nascimento participou de entrevista ao Jornal do Piauí desta segunda-feira (17). O médico admitiu a falta dos funcionários que estariam de plantão no lactário e reforçou que medidas serão tomadas em relação ao caso.
“Uma das funcionárias que estaria no plantão entregou atestado já as 18h e a segunda funcionária não apareceu ao trabalho. As medidas cabíveis em relação a isso estão sendo tomadas, em relação ao plantão ou a não tomada de iniciativa do nutricionista responsável que recebeu o atestado antes do horário, estamos tomando todas as providências. Um inquérito administrativo será aberto e a partir daí serão levantadas as informações e até uma demissão no caso de funcionário efetivo pode acontecer, dadas as circunstâncias e a gravidade”, explicou o diretor.
Vinícius Nascimento acrescenta que na noite deste domingo, com a não ida das funcionárias, o plantonista tomou a iniciativa de levar médicos residentes junto com duas mães ao lactário, onde se fabrica as fórmulas de nutrição para as crianças. “Eles convidaram duas mães que estavam a mai tempo no hospital e convidaram a ajudar o que foi uma situação que nunca ocorreu. Isso tem implicações e estão sendo tomadas as providências. Essas mães não poderiam ir para o lactário. As imagens partem já de uma questão de pressão social. A gente sabe que aconteceu um fato inadimissível, mas que não é comum. É a primeira vez que aconteceu no lactário. É um fato isolado, que nos preocupa e não será deixado a toa”, garantiu.
O diretor pontuou ainda que os fatos denunciados na reportagem são casos pontuais e que não condizem com a realidade do hospital. Para ele, os números apontam que o serviço tem tido eficácia. “Quando você tem uma imagem de que o hospital está numa situação de penúria os números não mostram isso. No mês de abril tivemos quase 700 cirurgias e mais de 3 mil atendimentos de ambulatório, como um hospital na situação que está sendo mostrada consegue ter uma demanda alta? “, declara.
Segundo Vinícius, há realmente uma enfermaria fechada por conta de ilfiltração no telhado. Segundo ele, o problema se dá por conta da estrutura do hospital que foi construído na década de 40 e possui um formato de telhado inapropriado. “Por conta das chuvas este ano que foram maiores tivemos que corrigir todas as calhas e uma das enfermarias tinha uma falha no telhado e já foi consertado isso. Ela tem que ficar fechado até que se tenha certeza que não vai vazar. Para nós também não é bom que ela esteja fechada já que parte do faturamento depende leito funcionando”, completou.
Em relação aos medicamentos, o diretor explica que alguns medicamentos estão em atraso de entrega por conta de burocracias necessárias. O diretor conclui afirmando que pontualmente as situações estão sendo resolvidas, mas reforça que o hospital tem tido grande índice de resolutividade, demonstrando assim eficácia em suas atividades.
“Isso me entristece – eu sou direto e sou médico de lá. O que eu quero deixar claro é que não é aceitável esse tipo de situação, mas não é uma realidade tão grave. A população deve ter consciência que a gestão do hospital e a secretaria de Saúde ao abandono como querem pregar. O hospital é de total importância para o nosso Estado. Consegue receber toda a população . É onde nós financiamos muita svezes medicamentos e exames que não foram feitos na rede básica e a gente tem um custo altíssimo de resolutividade que nenhum outro hospital do Estado tem. Os usuários tem total acesso a diretoria. A procura e a conversa com a direção tem um efeito muito mais rápido e eficaz desse problema.”, concluiu.
Cidade Verde